100 anos de Samuel Wainer, a ovelha negra da grande imprensa

Amanha, Samuel Wainer, o criador do jornal Última Hora, faria 100 anos. É impossível esquecer de ambos em dias de tanto debate sobre a imprensa no Brasil.

Wainer começou no jornalismo ainda estudante. Durante a ditadura de Getúlio Vargas, foi preso 3 vezes, e acabou no exílio, primeiro nos EUA, depois na Europa. Foi o único jornalista brasileiro presente aos julgamentos de Nuremberg.

Na volta ao Brasil, foi trabalhar como repórter para os Diários Associados. Em 1949, depois de cobrir um encontro de produtores de trigo em Bagé, decidiu ir até Sao Borja para entrevistar o ex-ditador, quieto em sua estância desde sua deposiçao. Getúlio o recebeu surpreendentemente bem, e Wainer acabou conseguindo dele a declaraçao da década – “Vou voltar, nao como líder político, mas como líder de massas”.

E voltou. Eleito em 1950, Getúlio precisava ter algum apoio na imprensa, que lhe era unanimemente hostil. Perguntou a Wainer se ele nao gostaria de ter um jornal. Nao foi difícil arranjar os financiadores, 1 banqueiro e 2 industriais simpáticos ao presidente. A Última Hora circulou pela primeira vez em julho de 1951. Defendia Getúlio e seu governo. Em 6 meses, era o jornal mais vendido do Rio de Janeiro, e logo foi lançado em Sao Paulo e Porto Alegre.

Wainer sofreu todo tipo de ataque de seus concorrentes. Foi acusado de nao ser brasileiro, de ter nascido na mesma Bessarábia de seus pais, o que o impediria legalmente de ter um jornal. Até uma CPI foi instalada. Nada se provou.

Quando Getúlio se matou, em 1954, muita gente achou que Samuel Wainer e a Última Hora seriam enterrados com ele. Mas resistiram. A UH atacou Café Filho, defendeu Juscelino, apoiou Jango, até receber a trombada de mais uma ditadura, em 1964. Wainer foi novamente para o exílio, voltou em 1967, mas já nao tinha mais nem liberdade nem recursos para fazer seu jornal sob o regime militar. Em 1972, vendeu a marca e o que restava dela a um grupo de empreiteiros (já havia vendido a versao gaúcha logo após o golpe, ainda em 1964, para Ary de Carvalho, que mudou seu nome para Zero Hora e, 6 anos depois, o vendeu à família Sirotsky).

Quando morreu, em setembro de 1980, Samuel Wainer era colunista e membro do conselho editorial da Folha de S Paulo. Seu maior segredo só foi revelado 25 anos depois – Wainer era mesmo nascido na Bessarábia. Riu por último.

N. da R. A Wikipedia diz que ele nasceu em 19 de dezembro. Mas tambem diz que ele nasceu em Sao Paulo :) 

20080901-030980B

publicidade

publicidade