A imprensa e o DNA da corrupçao institucionalizada | do Observatório da Imprensa

Texto de Carlos Castilho publicado no Observatório da Imprensa

Os dados divulgados nas últimas semanas sobre a contabilidade informal da Odebrecht relacionada às propinas e superfaturamentos, somados às revelaçoes da Lava Jato e a recuperaçao de informaçoes sobre velhos escândalos como a Lista de Furnas e o Mensalao forneceram à imprensa elementos para um mergulho no DNA de nossa corrupçao institucionalizada.

Se a funçao da imprensa é investigar, verificar, organizar e contextualizar dados, fatos e eventos para que o leitor possa entendê-los, estamos entao diante de um desafio inédito na história dos jornais, revistas e telejornais brasileiros. Políticos, empresários e juristas travam uma guerra de informaçoes para defender interesses, egos e projetos partidários. Se a imprensa quer justificar seu papel, chegou a hora de assumir a investigaçao a fundo da estrutura corruptora da atividade política, independente de estratégias eleitorais ou manobras jurídicas com fins partidários.

As notícias divulgadas nas últimas semanas eliminam as poucas dúvidas que ainda existiam sobre a existência de uma estrutura corrupta e corruptora, vigente há décadas, que nao foi criada por um partido, mas por todos eles, e que sobrevive porque se transformou num sistema associado à transformaçao da atividade parlamentar num empreendimento rentável e de longo prazo.

Se a imprensa quer ser coerente com seu discurso corporativo deve focar agora na identificaçao do DNA da corrupçao e nao nos malabarismos jurídicos e processuais do impeachment, ou da polêmica sobre o triplex de Lula no Guarujá. A corrupçao institucionalizada no superfaturamento de obras públicas, na distribuiçao de propinas e na contabilidade informal das campanhas eleitorais causa prejuízos bilionários e históricos ao conjunto da populaçao. Sao várias centenas de triplex desviados do orçamento federal que deveria ser um bem comum da sociedade mas foi transformado num reservatório de dinheiro sem dono sujeito à livre pilhagem.

A imprensa precisa patrulhar implacavelmente os nossos três poderes, as empresas estatais e as empreiteiras de obras públicas. Os executivos da mídia dirao que isto já está sendo feito mas o simples fato de que a corrupçao institucionalizada existe, pelo menos, desde a década de 80, conforme mostram as planilhas da Odebrecht, revela que a missao nao foi cumprida. A questao é o envolvimento da grande imprensa com interesses partidários e aí o problema se complica.

Os jornais, revistas e telejornais poderiam começar investigando a contabilidade das campanhas de cada deputado federal e de cada senador. Outras empreiteiras, entre as investigadas pela Lava Jato, também devem ter suas planilhas secretas sobre pagamentos informais a políticos e funcionários públicos. Por que a imprensa nao vai atrás destas planilhas, em vez de ficar passivamente esperando por vazamentos do Ministério Público ou da Polícia Federal?

O DNA da corrupçao passa inevitavelmente pela Câmara e pelo Senado, onde as obras públicas incluídas no orçamento federal sao aprovadas com o sobrepreço que depois financia as propinas que voltam mais tarde para os políticos e partidos. As planilhas mostram que a imensa maioria dos partidos integra esta rede de cumplicidades onde as siglas se alternam a cada quatro ou oito anos.

A corrupçao eliminou a diversidade ideológica, que aparece apenas quando se trata de defender o patrimônio pessoal ou corporativo. Qualquer repórter da área parlamentar está cansado de saber disto.” Continue lendo aqui. | Ilustraçao: Andrea Baulé

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