A internet que salva a Argentina do buraco negro informativo modelo anos 90 | Daniel Oiticica

Difícil negar que a política do governo de Mauricio Macri esteja distante das receitas neoliberais que conhecemos aplicadas nos anos 90. Vejamos algumas: demissoes em massa no serviço público, apoio aos grandes monopólios de mídia, liberaçao do tipo de câmbio, aumento de tarifas com a eliminaçao de subsídios, reduçao, e em alguns casos eliminaçao, dos impostos aos grandes exportadores de carne e graos, pressao sobre os sindicatos para limitar as negociaçoes salariais no nível conveniente ao governo (muito menor do que a inflaçao projetada), enfim, uma gigantesca transferência de renda das classes trabalhadoras aos poderes concentrados.

Apesar de todas essas evidências, me recuso a concordar com os que dizem que voltamos aos anos 90. A grande diferença se chama internet. A revoluçao digital, que mudou para sempre a forma como vivemos neste mundo, também dificultou a vida de governos que, por meio de pactos com a grande mídia, pretendem manipular, e até mesmo ocultar certas políticas desfavoráveis às classes populares.

Duas medidas de Mauricio Macri, relacionadas à sua política de comunicaçao, foram, de alguma forma, neutralizadas pelo poder da web. Dois dias depois de revelada a decisao de Macri de literalmente deletar mais de 10 mil matérias sobre temas sensíveis ao governo e ao Grupo Clarín, um portal entrou no ar com o objetivo de republicá-las. Batizado de Avestruz, o site tem como premissa “tirar a cabeça do buraco para ver em quem votamos realmente.” Outra boa notícia é a volta do programa 678, retirado por Macri da programaçao da TV Pública. Por enquanto, somente via internet. O site Diario Registrado vem publicando reportagens anunciando a volta do programa.

Nao estamos nos anos 90. Naquela época, pelo menos aqui na Argentina, quem mandava de fato, escondido atrás de cada governo neoliberal eleito – e também atrás dos militares ditadores que governaram antes -, era o uníssono informativo dos jornaloes. Hoje, em 2016, este coro maldito virou popurri, e cada um pode escolher sua própria melodia.

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