Demissao em massa no Globo e no Extra – será q a imprensa consegue se reinventar?

O dia vem sendo de lamentaçoes pela demissao em massa de repórteres, editores e colunistas dos jornais O Globo e Extra. Mas, acima de tudo, de perplexidade em relaçao ao mercado, ao futuro, à profissao. Notícias confirmadas se misturam aos boatos mais enlouquecidos; contam-se às dezenas os nomes dos demitidos, em velocidade de relâmpago. Já se ouviu e escreveu de tudo pelas redes sociais – despedidas lacônicas, textos comoventes (como o de Marceu Vieira, um primor de literatura), consideraçoes acertadíssimas (“por que nao se faz tudo de uma vez, fica-se arrancando unha a unha?”) e uma grande dúvida sobre o futuro do veículo, tanto especificamente d’O Globo (e seus subprodutos) quanto o jornal impresso.

A foice dessa vez passou sobre salários mais altos, configurando uma decisao calcada exclusivamente em números, e pelo jeito desconsiderando a qualidade do produto final que será possível fazer a partir de agora – a ver. Cadernos que tinham escapado dos cortes de janeiro – sim, houve um big corte dia 5 de janeiro deste ano – caíram agora, como o Prosa e Verso e a Revista da TV. Só no jornal-mae, saem o editor executivo Pedro Doria, a correspondente Isabel de Luca (NY) – posto que, sussurram, será fechado – e editores como Manya Millen, Valquíria Daher e Adriana Oliveira. Dos colunistas, fala-se em Flávia Oliveira (que vira PJ e continua escrevendo uma vez por semana), Helena Celestino, Mario Sergio Conti; do Opiniao, George Vidor. Da reportagem, vêm caindo no caldeirao da tristeza nomes como Sergio Ramalho, Ana Claudia Costa e Bruno Amorim (os três da Rio), Débora Ghivelder (Segundo Caderno), Bolívar Torres (Prosa e Verso), Renata Malkes e Luísa Xavier (Economia), Mauricio Fonseca e Allan Caldas (Esporte); fotógrafos (Hudson Pontes, Piu, Leporace), os diagramadores Edgard, Marcio Coutinho e Maraca (este, contam, saiu aplaudido do 1º andar). Cortes já anunciados na sucursal de Sao Paulo. Uma penca de excelentes profissionais que saem do Extra. E a lista nao para de crescer, para espanto geral.

Sob o impacto do choque, amigos e colegas reclamam que o Globo, única publicaçao de peso no Rio depois da derrocada de O Dia no mercado – jornal que fez muitas demissoes há pouco tempo, também -, está virando uma gazeta: sem força de trabalho, sem postos fora, com sucursais combalidas. Um grande amigo e grande jornalista me disse um dia que uma redaçao, para ser relevante e independente, tinha que ter sempre alguém à toa. Essa realidade nao existe há muito tempo e agora parece nunca ter existido. E, nessa ótica, ver grandes repórteres, grandes editores, grandes pessoas na maioria saindo como se nao fossem necessárias, fundamentais mesmo… soa como uma derrocada.

Aparentemente o jornal impresso acusa um golpe muito parecido com o que a indústria fonográfica sofreu anos atrás, com a entrada do MP3 no mercado. Música/informaçao disponível na rede, descartável, acessível a qualquer um como consumidor e produtor. As gravadoras tiveram que se reinventar, trabalhar seus artistas em espetáculos ao vivo, descobrir uma maneira de sobreviver na pulverizaçao do mercado. Será que a imprensa consegue? | Texto de Luciana Medeiros, jornalista e escritora

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