Estadao imita editorial do Correio da Manhã publicado em março de 1964 | do Observatorio da Imprensa

Texto de Dairan Paul publicado no Observatório da Imprensa | Tirinha da capa: André Dahmer

‘Nao é possível continuar neste caos em todos os sentidos e em todos os setores. Tanto no lado administrativo como no lado econômico e financeiro. Basta de farsa’.

‘Chegou a hora de os brasileiros de bem, exaustos diante de uma presidente que nao honra o cargo que ocupa e que hoje é o principal entrave para a recuperaçao nacional, dizerem em uma só voz, em alto e bom som: basta!’.

Entre as duas aspas, há uma diferença de quase 52 anos; as semelhanças, no entanto, sao gritantes. A primeira citaçao provém do editorial Basta!, escrito pelo jornal Correio da Manhã em 31 de março de 1964, às vésperas do golpe militar que depôs o presidente Jango Goulart. Na segunda sentença, temos o recente editorial do Estadao – Chegou a hora de dizer: basta! –, de 13 de março de 2016, data em que uma série de manifestaçoes contra o governo assolou o país.

As aproximaçoes entre os textos (a começar pelo título, perpassando também o seu conteúdo) nao se configuram exatamente como uma novidade ao longo da história do jornalismo – algumas destas reincidências já foram comentadas pela pesquisadora Amanda Souza de Miranda, em artigo sobre a cobertura midiática no governo de Getúlio Vargas. De 1964 até 2016, as estratégias pouco mudaram: nos dois editoriais citados, a ideia consiste em personalizar uma crise política na figura do administrador incompetente – ‘Joao Goulart nao tem a capacidade para exercer a Presidência da República e resolver os problemas da Naçao dentro da legalidade constitucional‘, ou, ainda a referência à presidenta Dilma Rousseff como uma pessoa ‘sem nenhuma vocaçao nem para a política nem para a administraçao’.”

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Mais adiante:

Há que se lembrar, aqui, o papel de contrainformaçao presente nas redes sociais, debatido anteriormente pela pesquisadora Lívia Vieira. Aproximaçao de fontes com leitores e o questionamento às narrativas de grandes jornais estabelecem novos discursos – embora eles nao necessariamente se legitimem como dominantes em relaçao às versoes ‘oficiais’ e, por vezes, ainda reproduzam uma lógica que nao consegue ir além do embate entre ‘coxinhas’ e ‘petralhas’. Por outro lado, a última crítica também cabe aos jornais, comprometidos ora em abraçar o governo acriticamente, ora em detoná-lo – o debate em forma de torcida Fla x Flu, quem diria, também atinge jornalistas imparciais.

Como sempre, quem perde é o leitor, sem saber onde se informar. Momentos como esse sao mais propícios à desinformaçao, aos boatos e ao empobrecimento do debate público. Diante desse cenário, ainda há quem fale na crise do jornalismo como sendo apenas financeira?” Leia na íntegra aqui.

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