Grande midia brasileira | Sexo, drogas e depressao nas redaçoes

Texto de Luciano Martins Costa postado ontem no Observatorio da Imprensa

Tem grande repercussao nas redes sociais a reportagem publicada na segunda-feira,11, pelo Portal Imprensa sobre o aumento dos casos de depressao, infidelidade conjugal e uso abusivo de drogas e álcool entre profissionais de jornalismo. O estudo foi realizado pelo doutor em Psicologia José Roberto Heloani, da Unicamp, cobrindo um período de 10 anos.

Segundo o pesquisador, na última década os jornalistas brasileiros se tornaram mais sujeitos a pressao por causa de circunstâncias de trabalho, tornando-se mais vulneráveis a assédio moral e sexual, além de outras condiçoes capazes de produzir desequilíbrio emocional e doenças mentais. No período mais recente de seu estudo, Heloani trabalhou com uma amostragem de 250 jornalistas, analisando aspectos de suas vidas como saúde mental, identidade e subjetividade e resiliência a situaçoes estressantes. Ele encontrou um grande número de profissionais trabalhando em estados de pré-exaustao ou exaustao na maioria das redaçoes.

A concentraçao da propriedade dos meios de comunicaçao, que torna crucial a aceitaçao de um jornalista no restrito e concorrido mercado da imprensa, o transforma em um indivíduo passivo diante de circunstâncias indignas de trabalho – “No Brasil, há 6 grandes grupos de comunicaçao. Você precisa ter muita coragem para fazer uma denúncia formal de assédio se quiser permanecer no mercado. A pessoa pode até pensar em mudar de área, ir para assessoria ou área acadêmica, mas nenhuma alternativa é fácil”, resume o pesquisador.

O uso de drogas aumentou cerca de 25% no período estudado, como uma das consequências das condiçoes opressivas de trabalho. Em funçao das longas e extenuantes jornadas, muitos dos entrevistados também relatam dificuldades de relacionamento, insegurança e medo de tomar decisoes. Essa realidade, confrontada com a imagem idealizada da profissao, produz uma sensaçao geral de vulnerabilidade e frustraçao, que levam aos casos de depressao (…..)

Interessante observar que, tendo sido publicada na 2a feira, a pesquisa nao despertou interesse nos grandes grupos de comunicaçao, justamente os lugares que concentram os problemas. Há 20 anos ou mais, essas empresas tinham comissoes internas de qualidade no trabalho, com programas de prevençao que protegiam os jornalistas dos riscos mais comuns da profissao. Com o fim da exigência do diploma específico para o exercício do jornalismo e o desmanche das atividades sindicais, as redaçoes ficaram submetidas ao arbítrio de editores e diretores nem sempre habilitados para a gestao de pessoas.

Os casos de assédio se multiplicam mas nao sao relatados publicamente, porque as vítimas têm medo de perder o emprego e entrar numa lista negra dos grandes jornais. O mais grave deles se transformou em escândalo com o assassinato da jornalista Sandra Gomide pelo ex-diretor de redaçao do Estado de S Paulo.

O episódio sangrento, que evoluiu do assédio ao homicídio, é minuciosamente investigado no livro Pimenta Neves – Uma reportagem (Editora Scortecci), de autoria de Luiz Octávio Lima, lançado na semana passada (…..)

Leia a integra deste texto que saiu ontem, 13. no Observatorio

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