Jornalismo imparcial ou jornalismo com opiniao? Acho que vc já pode escolher

Texto de Margaret Sullivan, traduzido por Jô Amadopublicado no Observatorio da Imprensa – republicado mais de uma vez no Blue Bus

Bill Grueskin lembra-se de que era editor no Wall Street Journal em 2004 quando o email de Farnaz Fassihi, destinado aos olhos de uns poucos amigos, começou a circular pelo mundo. Farnaz, uma iraniana-americana, era repórter do WSJ e a exposiçao de suas opinioes, provocativas e incisivas, sobre a situaçao do Iraque, que se deteriorava, era chocante. Publicada fora dos limites normais de um jornalismo dolorosamente equilibrado, sua mensagem dava aos leitores uma sacudidela de uma realidade sem filtros – “Foi uma leitura inesperada e a reaçao foi explosiva”, diz Grueskin, atualmente diretor da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Columbia.

Desde entao (2004) o debate sobre se os repórteres devem ou nao expor suas opinioes pessoais ganhou força e velocidade. Esse debate – embora de maneira diferente – apareceu no blog da ombudsman do New York Times há algumas semanas, quando ela escreveu sobre o chefe da filial de Jerusalém do jornal, Jodi Rudoren. Escrevendo no Facebook, Rudoren expressou suas opinioes pessoais sobre os palestinos de uma maneira pela qual, posteriormente, se arrependeu. Mas alguns observadores viram uma liçao importante na situaçao – “As opinioes e as crenças dos jornalistas importam, sim. Basta desse mito da objetividade”, escreveu no Twitter Jillian York, uma advogada.

Os leitores nao querem que as opinioes dos repórteres sejam dissimuladas (como em geral na grande midia no Brasil ou na Argentina obedecendo a linha do jornal). Mesmo que discordem. O leitor Mark, de Sydney, escreveu no blog da ombudsman – “Acho que o instinto de manter a velha ficçao de que os jornalistas profissionais podem se livrar de suas opinioes pessoais está fadado ao fracasso”.

Numa sociedade cada vez mais polarizada, este é um assunto cada vez mais importante e complexo. A objetividade importa? Vale a pena preservar a ideai de imparcialidade? Reconheçamos, com franqueza, que é um monstro de duas cabeças – em parte, há os preconceitos pessoais que os repórteres podem trazer para seu trabalho; e em parte a reportagem obscurece a verdade em nome da Justiça. Jay Rosen, professor de Jornalismo na Universidade de Nova Iorque, acredita que as interpretaçoes tradicionais de uma reportagem imparcial sao falsas. Ele acha que os jornalistas deveriam dizer diretamente aos leitores no que acreditam – “Os motivos para confiar estao mudando, pouco a pouco”, disse ele recentemente – “A ‘Opinião de Lugar Nenhum’ está se tornando cada vez mais difícil de confiar, enquanto no ‘Eis aqui de onde eu venho’ é mais provável acreditar” ;)

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