A midia nao sabe ainda como encarar o que acontece nas ruas (ou sabe muito bem…)

Charge de autor nao informado na internet

No Observatorio da Imprensa

“Virou rotina a colaboraçao da mídia jornalística com as polícias militares (leia-se governos estaduais), black blocs e provocadores infiltrados pelas autoridades. Finalidade – esvaziar e/ou manipular passeatas no Rio e em Sao Paulo” – nota Mauro Malin em artigo desta semana.

“Os jornais valorizam a violência de centenas, nao a manifestaçao pacífica de milhares. E, sobretudo, nao perguntam por que as polícias militares ou agem violentamente contra manifestantes pacíficos, ou, alternativamente, observam passivamente os agentes da violência até que eles cheguem a extremos”.

“Esse padrao foi observado pela PM de Sao Paulo nas manifestaçoes de junho. No dia 13 de junho houve uma tentativa de esvaziar mediante o uso de violência extrema todo o processo iniciado pelo Movimento Passe Livre. Foi o dia em que uma repórter da TV Folha e um fotógrafo autônomo foram atingidos nos olhos por balas de borracha. Como se disse aqui, tratou-se de ato destinado a sufocar os protestos (‘Gás de provocaçao’)”.

“Depois, as autoridades mudaram de tática” – acompanha Malin – “Aparentemente, os comandantes teriam ficado preocupados com a má repercussao da pancadaria e passado a determinar que os policiais assistissem passivamente até mesmo às açoes de manifestantes que empregam a violência como arma. Na verdade, deixaram sistematicamente que a situaçao chegasse a um ponto em que se justificasse o emprego da força”.

Observa que “nas recentes manifestaçoes de professores no Rio de Janeiro, a sequência foi idêntica. Na 3a feira (1/10), a PM fluminense partiu para a ignorância, como se dizia antigamente. A constataçao é do secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame: “Houve, sim, preliminarmente, excesso dos policiais, mas esse excesso veio também, por vezes, dos 2 lados” (noticiário da Agência Brasil, 5/10)”.

O presidente da Comissao de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB, Wadih Damous, declarou: “O que vemos no Rio é uma política de extermínio de manifestantes, pondo em risco a vida das pessoas com o uso indiscriminado de balas de borracha e sprays de pimenta” (Agência Estado, 7/10). Essa retórica fora de propósito nao ajuda a entender as coisas. Damous deve ter se expressado mal, ou nao sabe o significado da palavra “extermínio”. Em todo caso, constata-se que a violência policial causou comoçao.

Na 2a feira seguinte (7/10), a PM-RJ passou à 2a modalidade. Deixar acontecer e depois dar combate. Nem o Globo, cujo noticiário segue um padrao de calhordice cada vez mais esmerado, deixou de notar que “a PM reduziu o número de policiais mandados ao local e, desta vez, demorou para reprimir a açao dos mascarados”.

Segue – “Quem chegou mais perto de fazer a pergunta correta (mas nao de tentar respondê-la) foi O Dia. Em box no alto da página 5 (‘Sepe condena vandalismo no protesto’), reproduz declaraçao do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educaçao do Rio de Janeiro segundo a qual “agentes infiltrados na manifestaçao iniciaram o vandalismo com a intenção de esvaziar as próximas passeatas” (…..)

Nenhum dos jornais faz a pergunta óbvia: por que a PM usa esse duplo padrao, do qual no final das contas resulta a mesma coisa, a pressao para esvaziar os protestos? A resposta, que acabará aparecendo em declaraçao de alguma personalidade política mais independente, é: a PM funciona a serviço da tentativa de evitar prejuízo político e tirar o maior proveito possível para o grupo do governador Sérgio Cabral Filho no xadrez eleitoral de 2014.

E Malin quer saber “por que a pergunta nao é feita”. E responde – “Porque esses veículos sao, em grau maior ou menor, aliados políticos de Cabral e do prefeito Eduardo Paes. Aventar as razoes dessa aliança ultrapassa os limites deste tópico”.

Sobre a Mídia Ninja, Mauro Malin observa que “seus ativistas nao pretendem ter compromisso com a defesa da democracia, tal como entendida pelos constituintes de 1988, que representavam os cidadaos votantes de 1986. Se o carro da democracia capotar, a tarefa do ninja de plantao será fotografar a derrocada. Antes de ser preso e…”

Conclui – “É uma disputa de sensacionalismo, dentro de uma diretiva de solidariedade política aos governos. Essa mídia jornalística está brincando com fogo. A evoluçao possível deste cenário, com a imprensa curvada diante da estratégia das polícias militares (de seus chefes políticos), aponta na direçao de potenciais prejuízos para as liberdades democráticas. Nao falta quem esteja à espera de um momento propício à aceitaçao popular de restriçoes ao direito de manifestaçao. Para dizer o mínimo”.

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