Presidente e Primeiro-Ministro comemoram no Brasil o Dia de Portugal – “Nao é uma visita bilateral…”

Com todo o meu respeito, nao poderia ter sido mais incômoda a data que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-Ministro, António Costa, escolheram para aterrarem em solo brasileiro – o dia 10 de junho, Dia de Portugal, de Camoes e das Comunidades Portuguesas. “O objetivo nao é uma visita bilateral. O que está em causa nao é o relacionamento de Portugal com o Brasil – que é sempre muito estreito, independentemente dos presidentes e das circunstâncias -, mas celebrar o Dia das Comunidades com as comunidades no exterior”, avisou na semana passada o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

Nessa 3ª feira, mais um aviso foi dado. Dessa vez através das palavras do presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, no final de seu périplo quase ‘ecumênico’ pela Regiao Autônoma dos Açores – “Nao há convites a autoridades” brasileiras para se juntarem às comemoraçoes em Sao Paulo e no Rio. Será uma “celebraçao de portugueses com portugueses”, disse. Mas também deixou claro que se autoridades locais quiserem comparecer é algo que “terao de levar em conta”, disse. Estranho… Principalmente no atual momento de turbulência política no país, que envolve o ainda presidente, Michel Temer, num escândalo de corrupçao.

Ontem, outro aviso, esse em forma de notícia da Lusa, veio tentar esclarecer o ruído que esta visita já está a causar, antes mesmo de começar, reafirmando que o Presidente da República e o Primeiro-Ministro vao centrar “totalmente” na cultura e nas comunidades portuguesas as comemoraçoes do Dia de Portugal, no Brasil, afastando-se da dimensao político-institucional. A programaçao junto à comunidade já está pronta com a ressalva do Presidente de que “as autoridades desses Estados estao no seu território” e que “temos de tomar isso em conta, tratando-se de países com os quais temos laços, nao só de amizade, como fraternais, e no caso do Brasil, muito fraternais”.

O recado está dado… Como brasileira com cidadania portuguesa também me sinto no direito de deixar um aviso, devido às atuais “circunstâncias” no meu país de origem, como tao bem informou o Ministro dos Negócios Estrangeiros na sua declaraçao sobre o assunto. Nessa visita, nao ajudem a contribuir para a imagem de ‘aparente normalidade’ que muitos políticos e juristas brasileiros – alguns até estiveram aqui em Lisboa dando palestras nos últimos tempos – querem fazer crer que existe do outro lado do Atlântico. Rio, Sao Paulo e outras cidades onde vivem ‘as comunidades portuguesas no exterior’, muitos sao brasileiros e com certeza andam preocupados com o futuro, procurando soluçoes dignas para o período de terra arrasada que estao vivendo. Só para constar, os brasileiros nao discriminam quem vem “de fora”, procuram sempre integrá-los e nao gostam de utilizar a palavra ‘comunidade’ para nao criar guetos, coisa do século passado. Nao gostam também de perceber heranças neo-colonialistas nos discursos, mesmo naqueles que têm as melhores intençoes… Pensem nisso, sintam o pulso dessa grande naçao quando a comitiva portuguesa pisar em ‘terra brasilis’. Todos os visitantes sao sempre bem vindos e quem sabe se na próxima visita vamos poder comemorar, com mais solidariedade e atençao, esse nosso “imenso Portugal”. Com todo o meu respeito… | Foto: Lusa

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