A nova versao do ‘678’ na Argentina e a descoberta de um suspeitíssimo ministro da Fazenda

Lembram-se do fim do 678, programa jornalístico da TV pública argentina que arrancava as máscaras do establishment político e midiático e que foi banido da programaçao do canal pelo novo governo do Presidente Mauricio Macri? Lembram-se de sua ressurreiçao em versao web, noticiada aqui no Blue Bus como uma vitória da liberdade de imprensa e da defesa da pluralidade de vozes?

Pois entao, a nova versao do 678, batizada de 768, tem exibido reveladoras reportagens que jamais nenhum grande grupo de comunicaçao como o Clarin ou a TV Globo se atreveriam a emitir. O Blue Bus se lembra de tudo o que publica e resolveu dar uma espiada. O que será que a versao web do bom e velho 678, agora 768, tem revelado ao mundo sobre temas que o Clarín e a TV Globo jamais se atreverao a contar?

E eis que encontramos uma reportagem do dia 1º de julho, cujo personagem central é nada mais, nada menos que Alfonso Prat Gay, o todo poderoso Ministro da Fazenda do governo de Mauricio Macri. Intitulada “A sujeira de Prat Gay”, a reportagem começa com um túnel do tempo, exibindo valiosas imagens de arquivo que relembram aos webespectadores que em plena crise de 2001, Prat Gay foi pego com a boca na botija, identificado pela Receita Federal argentina como titular de uma milionária transferência ao exterior de 768 mil dólares, nao declarada, ao mesmo tempo em que, sentado em um estúdio de televisao, tentava convencer os argentinos de que o dinheiro que tinham perdido com a mega desvalorizaçao daquela época nao era um roubo, mas sim o resultado de uma bomba atômica (da qual só ele e um punhado de poderosos privilegiados tinha podido se salvar). Insólito!

Quinze anos depois, o entao Ministro da Fazenda de Macri é pego em flagrante pelo 768 em uma conferência em Nova Iorque, se referindo a um tal “dirty job” (trabajo sucio, em bom castelhano, ou trabalho sujo em um português muito melhor ainda). Para o argentino comum, que há 7 meses vem sofrendo um brutal arrocho em sua condiçao de vida, fica bem claro a que se refere o Ministro. E o 768 sabe bem do que se trata: demissoes, tarifaço, recortes, destruiçao da indústria…

Logo depois vem a pergunta que o povo (nao a mídia) está fazendo, mas que o governo nao vai responder jamais, brilhantemente formulada pelo jornalista Roberto Caballero em seu programa de rádio: A que se refere Prat Gay com “trabalho sujo“? Ao tarifaço? À internacionalizaçao dos preços do gás, da luz, da água? A ter despedido funcionários públicos como se fossem ratos? É preocupante, porque o trabalho sujo também o que provocou é, por exemplo, um aumento da dívida. O trabalho sujo inclui neste semestre menos consumo, menos produçao, menos trabalho. O que eles chamam trabalho sujo para nós foram 6 meses de um intolerável recorte de direitos.

Prossegue a reportagem: nao é a primeira vez que Prat Gay se expressa dessa maneira pejorativa. Páfate, outra pedrada de realidade com um novo flagrante transmitido ao vivo por alguns canais de TV. Prat Gay em coletiva de imprensa algumas semanas depois de assumir o ministério da Fazenda: Encontramos um Estado cheio de militantes, mas vazio de conteúdo. E queremos que este Estado tenha conteúdo, que nao lhe sobre a “gordura” da militância. Fomos acomodando o lixo, como dissemos várias vezes…

Prat Gay em 2013, 3 anos antes de assumir o ministério: Somos uma naçao de 40 milhoes de habitantes que a cada 10 anos nos deixamos cooptar por um caudilho que chega do Norte, do Sul, nao importa de onde vem, mas de províncias com muito poucos habitantes com um currículo praticamente desconhecido (…) tomara que em 2020 nao estejamos falando de um fulano de tal, chegado de sei lá de onde, de Santiago del Estero (província da Argentina), que nao conhecíamos, que apareceu do nada e que acaba ficando com todo o poder (!!!!).

É neste ponto entao que a reportagem coloca a pergunta: Qual é o trabalho sujo que resta ao governo (de Macri) fazer? Quem responde entao é Carlos Pagni, uma espécie de Merval Pereira argentino: O que Cristina Kirchner tem que explicar é o 1 milhao de funcionários que incorporou ao sistema sem nenhum tipo de justificativa…

A jornalista Mariana Moyano entra em cena depois, para analisar o “trabalho sujo” de Prat Gay e seu envolvimento no escândalo de lavagem de dinheiro que envolve poderosos e o banco HSBC. Causa que, diga-se de passagem, está suspeitosamente engavetada na Argentina pela inércia voluntária de juízes, promotores e mídia: “Sao vários planos que provocam arrepio quando escutamos o Prat Gay. A ideia do trabalho sujo nos leva em termos simbólicos, de construçao de sentido e de palavras a uma época terrivelmente escura da Argentina. Nao acho que seja casual, talvez nao seja de propósito mas realmente sai dos seus poros, como os fundos abutres que tinham como nave emblema, que iam construindo sentido sobre o que era o chamado grupo de tarefas. Existe uma simbiose muito irmanada, que me chama a atençao. Que sejam tao primos irmaos na linguagem, é algo que assusta porque inunda sua linguagem e isso realmente assusta. Por outro lado, em termos mais concretos e específicos, Prat Gay tem vários problemas. Tem que explicar o dinheiro que nao declarou, tem que explicar qual é sua vinculaçao com as contas do HSBC, que agora as duas pessoas que tinham que investigar essas contas sao seus funcionários… e uma coisa interessante é acompanhar o Hernán Arbizu executivo que se auto-denunciou para explicar como ocorria a lavagem de dinheiro dos poderosos da Argentina no JP Morgan, e que agora decidiu ir aos Estados Unidos e o acusam de ser um militante K extraditado, o que é totalmente falso. Viajaram juntos, ele e o Prat Gay, e o Arbizu disse a Prat Gay: a gente vai se reencontrar. Já que o procurador nao trabalha no processo, eles vao ter que se reencontrar quando Arbizu começar a depor nos Estados Unidos.”

Mais claro, impossível. A Argentina realmente nao merecia este Ministro!

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