Caipirinha, biquíni e Havaianas… passaporte para o verao europeu

Parece estranho para quem vive num país tropical como o Brasil, mas o ritual da chegada do verao na Europa é um verdadeiro acontecimento. Esquentou um pouco e o pessoal já fica todo animado, começa a ‘descascar’ os casacos e por os dedinhos – as unhas pintadas! – pra fora. Ainda estamos na primavera… Bastou a notícia de que a temperatura iria ter “uma subida mais significativa no domingo e na 2ª feira, dia em que estamos a prever valores na ordem dos 30 a 35 graus” para arrebentar como uma onda no meu Twitter um comercial das Havaianas – mais um produto brasileiro que ao lado da caipirinha e do biquíni nao precisa mostrar passaporte para desembarcar nas praias europeias…

Quebrando o gelo – “Vais para o Rio? Entao traga-me umas Havaianas”, sempre alguém me pede o presente que mais faz sucesso por aqui, apesar das famosas já estarem à venda nas melhores casas do ramo da cidade. Nao resisto e dentro da minha mala, a cada viagem trago umas 3 ou 4 para os meus amigos portugueses. Ao desembarcar em Lisboa, passo direto – ‘Cidadaos da UE’, leio no aviso e sigo em frente… Ao olhar para trás, uma fila enorme aguarda a hora de carimbar no passaporte o seu direito de entrada no país. Alguns ficam pelo caminho e outros seguem em frente em busca de seus destinos. Pisar em solo europeu só com tempo determinado, uma das restriçoes para ninguém ser considerado ‘imigrante ilegal (!)’ – a pesada bagagem que muitos têm de carregar por um longo tempo…

Nesses últimos 2 dias, duas notícias chamaram a atençao do mundo e da Europa, em particular. A ‘vitória histórica’ do Partido Conservador nas eleiçoes no Reino Unido – meca de muitos imigrantes – e, na Espanha, mais uma constataçao de que é possível carregar tudo e mais alguma coisa dentro de uma mala na esteira de um aeroporto. A ‘coisa’ desta vez era um menino de 8 anos, paralisado, espremido, à espera que o libertassem daquele sufoco. Nas notícias que acompanhei, mostraram o fato, a foto com o raio X, mas até agora nem uma linha, nem uma palavra sobre o absurdo que levou a essa triste descoberta. Medo? Falsos cuidados? As eleiçoes britânicas sao mais importantes? Ou a célebre “não é hora para se comentar esses assuntos?”. Prefiro acreditar que para a maioria das pessoas as notícias muitas vezes falam por si, mas nao tenho a menor dúvida que neste lado do mundo existe um muro, muitas vezes de gelo, invisível, que precisa ser derretido, derrubado. Olhando de novo para o comercial, quem sabe se os pés descalços que cada vez mais estao desembarcando para deixar suas marcas nessa Europa ‘globalizada’ (?), um dia nao vao poder usar as suas Havaianas – as autênticas – que já foram apresentadas “como aquelas que nao têm cheiro, nem soltam as tiras”, lembram? Assim caminha a humanidade…

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