Corrupçao – A midia usa a tecnica de produzir desinformaçao p proteger politicos

Texto de hoje do Luciano Martins Costa no Observatório da Imprensa aqui

A maneira mais eficiente de produzir desinformaçao em jornalismo é aumentar aleatoriamente a quantidade de elementos de informaçao sobre uma base condicionada de significados. Essa é uma liçao que jornalistas formados em faculdades específicas de comunicaçao aprendem duramente, porque para entendê-la é preciso passar por algum conhecimento de matemática e estatística, além de compreender alguns fundamentos de linguística. Em geral, jornalistas nao gostam de matemática e estatística.

O processo da desinformaçao é uma das técnicas mais elaboradas para ludibriar o pressuposto da objetividade no jornalismo. Em publicidade, isso é virtude; no jornalismo, é pecado mortal.

A técnica é até simples: manipulam-se os significados possíveis de uma informaçao e entulha-se o contexto com redundâncias, que irao ecoar continuamente a mesma base de significados, até exaurir o receptor do processo de comunicaçao. As manchetes, artigos e editoriais condicionam o significado; o noticiário produz a redundância desinformativa.

Pode-se afirmar que, quanto mais próximo o receptor estiver do contexto da informaçao, mais facilmente ele será ludibriado pelas redundâncias, porque o distanciamento ajuda a separar o som original de seus ecos.

Se o produtor do conteúdo jornalístico quiser condicionar o entendimento de um determinado fato, ele destaca um significado específico e depois satura o receptor com informaçoes aleatórias que irão dificultar a apreensão de outro significado para o mesmo acontecimento. Quanto mais próximo do evento, mais o receptor será iludido pelas redundâncias.

Pode-se observar, por exemplo, que o noticiário sobre os escândalos envolvendo autoridades paulistas com a máfia dos fiscais da prefeitura de Sao Paulo e com a formaçao de um cartel nas obras do metrô e dos trens metropolitanos faz mais sentido quando é produzido com uma visao mais distante do local dos fatos.

A 5a feira (28/11) oferece uma oportunidade interessante para analisar esse fenômeno, que costuma ser explorado pela mídia tradicional, principalmente nos assuntos de política e economia. Por exemplo, se o leitor de jornais lembrar da “inflaçso do tomate”, vai perceber como o aumento do preço de um único produto agrícola foi usado para vender a ideia de que o Brasil estava mergulhando no abismo da inflaçao.

Para fazer o exercício que propomos, basta comparar as primeiras páginas dos jornais paulistas O Estado de S Paulo e Folha de S Paulo com o carioca O Globo, nas ediçoes de hoje. O Estado, que no dia anterior havia feito estardalhaço com declaraçao de líderes do PSDB sobre um dos muitos documentos que compõem o inquérito sobre o cartel de trens, publica uma manchete na qual o principal acusado de organizar o esquema e a lavagem do dinheiro afirma que nao pagou propina a políticos.

A Folha, que na véspera também tinha dado grande repercussao às queixas de políticos tucanos, abandona o assunto na primeira página mas reconhece, em reportagem interna, que os papéis que apontam para o envolvimento de autoridades mais graduadas estao sendo investigados desde 2009.

O Globo, que na 4a feira também havia destacado a denúncia dos políticos do PSDB, de que um dos documentos havia sido falsificado para envolver o partido, se distancia da controvérsia ao publicar, na manchete da quinta-feira, que “PT e PSDB fazem guerra de versoes sobre dossiê”.

Ao se afastar da guerra de declaraçoes, o jornal carioca reapresenta ao leitor os significados originais do acontecimento: há uma investigaçao de corrupçao que envolve autoridades paulistas e há uma disputa pela opiniao do público que tem como horizonte as eleiçoes de 2014.

Em suas páginas internas, o Globo investe no aspecto mais objetivo da questao, avançando na investigaçao e revelando outro episódio de movimentaçao de dinheiro na Suíça, envolvendo um novo personagem, que foi secretário de Obras e é irmao de um ex-presidente da Companhia do Metrô de Sao Paulo.

A reportagem do Globo remete o início do esquema para o ano de 1997, o que faz o leitor atento considerar que, se os governadores que ocuparam o cargo desde entao nunca desconfiaram de nada, é porque olharam para o outro lado, como se diz no último filme de Woody Allen, Blue Jasmine.

Há duas frentes de investigaçao que convergem para o mesmo ponto, mas a Folha e o Estado insistem em separar o caso iniciado pelas denúncias de ex-dirigentes da Siemens da apuraçao que tem como epicentro a empresa francesa Alstom.

O Globo observa que os dois casos estao unidos por uma reportagem publicada em 2008 pelo Wall Street Journal, mas os dois diários paulistas se revezam num esquema de blindagem dos políticos que governaram Sao Paulo nos últimos 15 anos.

A técnica é a da desinformaçao por redundância.

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