Dia 1/Web Summit | Abertura, a bolha do bem e Fernao de Magalhaes

Ontem, entrei numa espécie de “bolha do bem” na cerimônia de abertura da cimeira de tecnologia Web Summit, aqui em Lisboa. Auditório do Altice Arena lotado, gente de mais de 150 países e um desfile de personalidades, oradores, empreendedores, jornalistas e milhares de participantes que chegaram para ouvir, trocar informaçoes e, claro, fazer negócios. “A capital portuguesa voltou a se tornar a capital do mundo”, declarou o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, ao dar início ao evento. E que mundo é esse? “Em 2019, pela 1ª vez, mais da metade do mundo vai estar conectado e é preciso olhar com mais atençao para a Internet”, disse Sir Tim Berners-Lee, nada mais nada menos que o criador da Web, na 1ª intervençao da tarde. “Temos a obrigaçao de olhar para os 2 lados do mundo” e “ajudar outros a ligarem-se”, avisou o cientista informático, depois de rapidamente apresentar mais um de seus projetos – uma convençao internacional – #For the Web – para criar uma espécie de manual de bom comportamento, com princípios e valores que tornem a “Internet mais segura” e que a “mantenham livre”. Sinal dos tempos…

Logo a seguir, para dar maior credibilidade ao projeto de Tim Berners-Lee, subiram ao palco alguns representantes da indústria tecnológica mundial que já aderiram a essa espécie de contrato social, e Michael Free, responsável por uma das empresas de cibersegurança de Silicon Valley. “Lido com muitas zonas cinzentas (…) os governos podem estar receosos, mas é preciso que todos se encontrem e falem dessa necessidade de ‘melhorar’ a Internet”, avisou. Para terminar, uma das vice-presidentes do Google, Jacqueline Fuller, também deixou o seu recado para a plateia – “Este é um momento incrível para o mundo e é mesmo muito importante darmos acesso a tanta gente”. Quando perguntada sobre a greve recente no Google, em que os funcionários fizeram manifestaçoes andando ao redor da sede, declarou que ela também estava presente e esse é um movimento que “só irá fortalecer a companhia”.

Já preparando terreno para o próximo convidado, entrou no palco a vice-presidente para as áreas sociais e ambientais da Apple, Lisa Jackson, que logo no início admitiu que “nem toda a gente” nos Estados Unidos concorda com Donald Trump e que “na Apple continuamos a apoiar o Acordo de Paris”, protocolo firmado em 2015 para a reduçao das emissoes de dióxido de carbono no planeta. A responsável também deixou claro que “negócios bons sao os que fazem o bem” e que cabe a todos proteger o ambiente. Como num ‘trailer’ para o próximo convidado, mais uma conversa, essa com um representante da cultura, do cinema, e como a realidade virtual e a ciência o ajuda a contar histórias e a construir narrativas. Muito interessante nas respostas, Darren Aronofsky, responsável por filmes como o ótimo ‘Cisne Negro’, chegou mesmo a dizer que considera o uso da tecnologia na realidade virtual como uma forma de arte e nao apenas como uma ferramenta do cinema. “É um mundo diferente (…) quando estamos a ver um filme, entramos no filme, seguimos os personagens. Na realidade virtual, experimentamos mais, somos mais nós próprios, nao outra pessoa”. Um homem da chamada 7ª arte que no ‘the end’ saiu do palco dando vivas à ciência.

Talvez o mais aguardado convidado da noite enfim chegou – o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi recebido pelo auditório com os celulares piscando e, depois de fazer algumas consideraçoes sobre a utilizaçao das novas tecnologias no mundo atual, fez um alerta sobre os perigos da utilizaçao da inteligência artificial para fins militares e bélicos, alertando que cabe a todos saber utilizar a evoluçao dos meios digitais para uma “força do bem”. “Máquinas que têm o poder de tirar vidas humanas sao politicamente inaceitáveis, moralmente condenáveis, e devem ser banidas pela Lei Internacional”, declarou ao sair o secretário-geral da ONU, debaixo de fortes aplausos.

O final desse dia 1 se anuncia, ainda sob os ecos e comentários da última apresentaçao, com mais uma presença – a do 1° Ministro de Portugal, António Costa. “Conectar pessoas de todo o mundo” está no ADN desse país, disse às empresas portuguesas presentes na Web Summit – “encontrem novos parceiros, novos mercados e mais capital”, disse ao sair, desejando bom trabalho a todos.

Para encerrar essa maratona de bons argumentos, declaraçoes e entrevistas, um momento bem português da organizaçao para o mundo ali presente ver – a entrega de um presente ao presidente executivo da Web Summit, Paddy Cosgrave. Nada mais, nada menos que um quadro com a foto do navegador português Fernao de Magalhaes. “No próximo ano celebramos 500 anos desde a 1ª volta de circum-navegaçao da terra, feita por Fernao de Magalhães”, e desde entao, “ Portugal e os portugueses sempre foram um ponto de encontro, um ‘hub’ para a migraçao e para o comércio global”, explicou o autarca (prefeito) de Lisboa, ao lado do 1º Ministro, António Costa, para o homenageado e ao público presente.

O passado, o presente e o futuro estiveram lá – sonoros, orgânicos, viscerais, celebrados debaixo dos batidas dos tambores de um grupo de crianças e jovens sob uma chuva de papeis prateados. Tum, tum, tum, batem coraçoes…


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