Jayme Serva a 4 quadras do Largo da Batata, leia esse antes de ir

Meu escritório fica a 4 quadras do Largo da Batata, ponto de encontro das manifestaçoes de hoje em Sao Paulo. O clima no prédio é de uma excitaçao geral, e a maior parte das pessoas que cruzo pelos corredores é simpática aos manifestantes e cogita participar hoje. Amigos meus que têm filhos da idade dos líderes do movimento já anteciparam que vao à passeata. As projeçoes conservadoras falam de 40 mil na rua. Provavelmente serao mais. A linda jovem do 13o. andar anuncia com segurança e um sorriso desconcertante: serão 80 mil. Nada parecido é visto em São Paulo desde o tempo dos caras-pintadas.

Tudo por 20 centavos? Tudo isso cessa se o prefeito porventura revogar o aumento das passagens de ônibus? Nao, nao cessa. É evidente que estamos mais uma vez diante de uma gota d’água histórica. Há um descontentamento difuso e cada vez mais generalizado. 45 anos depois do maio de 68, nosso junho de 2013 tem algumas características semelhantes: nunca houve tanto universitário no Brasil, há décadas o debate político estava morno, até pela falta de agenda, novas formas de comunicaçao se popularizaram (em 68 era a TV associada à rádio-foto, espalhando rapidamente as notícias, agora é a internet a telefonia celular tomando as rédeas do que a notícia será), a açao repressiva exagerada libertou uma revolta coletiva.

Nao se trata de 20 centavos, há mais do que uma vontade específica. Não há uma pauta clara. Ela se construirá no bojo do próprio movimento (o maio de 68 na França era tao inespecífico quanto, diferente do que ocorria nos EUA ou aqui, onde havia inimigo consolidado: lá, a guerra do Vietnã, aqui a ditadura; no entanto foi a partir de Paris que o mundo mudou).

O Largo da Batata pode hoje entrar para a história. Parafraseando um velho político, há alguma coisa no ar além dos helicópteros sobrevoando :)

publicidade

publicidade