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Jornalismo | O q dizer a qm está chegando agora? | Carlos Castilho no Observatorio
Texto do prof Carlos Castilho publicado no Observatorio da Imprensa.
Uma das mais perturbadoras perguntas, das várias que tiram – ou deveriam tirar – o sono dos profissionais e professores é sobre o que transmitir aos milhares de jovens que ingressam em escolas de jornalismo. Parece uma pergunta óbvia, mas quem é do ramo é forçado a admitir que nao há respostas prontas, ou as que possui nao resolvem o dilema.
O ensino do jornalismo enfrenta os mesmos dilemas das empresas jornalísticas nesta transiçao de um modelo industrial e analógico para o modelo digital baseado na produçao de conhecimento. Ensinar o uso de tecnologias de comunicaçao e informaçao ou transmitir aos alunos a preocupaçao com os novos valores emergentes na era digital no jornalismo?
Sempre que essa polêmica surge, os resultados sao inconclusivos, em parte por conta das divergências entre críticos e defensores da nova ordem na comunicaçao jornalística, mas, basicamente, porque como ninguém sabe o que vai acontecer com o jornalismo e com a imprensa, também nao sabe qual será o perfil futuro do profissional.
O Instituto Poynter, de Sao Petersburg, Flórida (EUA), lançou no início de dezembro a última fase de uma pesquisa mundial sobre o futuro do ensino do jornalismo, depois de divulgar o relatório Estado do Ensino do Jornalismo – 2013, contendo as conclusoes preliminares. A pesquisa via internet está dirigida basicamente a professores de jornalismo e a profissionais da imprensa, procurando identificar percepçoes e opinioes sobre o que ensinar para as novas geraçoes de jornalistas.
O relatório afirma que os administradores e professores em escolas de jornalismo estao sendo atropelados pela rapidez e intensidade das mudanças na área da imprensa e dos meios de comunicaçao. Afirma também que quem nao mudar currículos e estratégias pedagógicas acabará caindo fora do mercado.
O conteúdo básico do documento é a comparaçao das percepçoes e posicionamentos de professores e profissionais, apontando a manutençao do fosso entre as opinioes de um lado e outro. Enquanto os educadores apresentam um otimismo moderado em relaçao às mudanças já realizadas, os profissionais mostram-se extremamente críticos da capacidade de as faculdades acompanharem as mudanças tecnológicas.
Segundo os autores do relatório, as escolas de jornalismo estao perdendo alunos por conta da percepçao de que o diploma ajuda muito pouco na busca de empregos numa indústria em crise. Os dados sao mais relacionados ao mercado norte-americano porque a maioria dos participantes na fase inicial da pesquisa mora e trabalha nos EUA. Mas a tendência vale também para o Brasil, onde a evasao de candidatos ao jornalismo é menos intensa porque muitos interessados ainda acreditam que podem se tornar repórteres, apresentadores ou correspondentes das grandes redes de televisao do país.
Por aqui, as dúvidas sobre o futuro ainda nao superam o ceticismo quando se trata de ingresso numa escola de jornalismo. Mas quem tem a responsabilidade de dirigir um curso de graduaçao nao deve estar muito feliz com os prognósticos sombrios no setor.
A questao básica parece ser um impasse. As escolas esperam que as empresas mudem para adaptar seus currículos às possíveis novas oportunidades de emprego. Por seu lado, a indústria do jornalismo critica a lentidao das mudanças acadêmicas mostrando uma aparente segurança de que vai conseguir resolver sozinha os seus problemas e achar um novo modelo de negócios, antes que seja tarde demais.
Um está esperando pelo outro. As escolas, que durante décadas se colocaram na posiçao de supridoras de mao de obra qualificada para a imprensa, resistem a mudar suas estratégias de ensino porque terao que fazer uma aposta na incerteza. A inevitabilidade da mudança é uma sensaçao generalizada no ambiente jornalístico, mas o medo de errar continua mais forte do que a busca de alternativas.
Nao deveria ser assim, porque afinal as universidades sao instituiçoes de pesquisa e nao de capacitaçao de mao de obra. Pesquisa implica experimentaçao na preocupaçao de explorar o inédito, o desconhecido e o incerto. Quem teme errar nao faz pesquisa. Mas a mentalidade comercial dos cursos de jornalismo levou-os a abandonar a experimentaçao em favor da reproduçao de conteúdos e técnicas.
Evoluçao constante dos programas e equipamentos usados pelo jornalismo tornou inviável o recurso da repetiçao de aulas e treinamentos. Quando entra na faculdade o candidato a jornalista se defronta com uma realidade tecnológica e quando sai, 4 anos mais tarde, está tudo diferente. O que ele aprendeu tem pouca utilidade na procura de empregos em empresas que buscam a sobrevivência por meio da inovaçao tecnológica constante.
Insistir na reproduçao de conteúdos pode ser cômodo para o professor, mas é fatal para o curso. As faculdades precisam dar-se conta de que sua continuidade depende do desenvolvimento de uma nova abordagem no ensino do jornalismo. E nao podem esperar pela indústria porque esta busca hoje a sua sobrevivência em meio a uma incerteza jamais vista pelas empresas jornalísticas.
E essa nova abordagem está diretamente ligada à preocupaçao com os novos valores do jornalismo na era digital, uma área onde as faculdades, em teoria, têm muito mais vantagens do que as empresas.
Carlos Castilho tem 35 anos de carreira em rádio, jornais, revistas, televisao e agências de notícias, no Brasil e no exterior. Foi correspondente do Jornal do Brasil, no Chile; foi editor chefe do Jornal da Globo; chefe do escritório da TV Globo em Londres; correspondente do jornal Publico (Portugal) na América Latina; editor chefe do serviço latino-americano da agência de notícias Inter Press Service; consultor de comunicaçao das Naçoes Unidas e Uniao Européia, na Costa Rica.
É Mestre em Mídia e Conhecimento, pelo Programa de Engenharia e Gestao do Conhecimento, da Universidade Federal de Santa Catarina; integrante da direçao do Observatório da Imprensa; professor de Jornalismo Online e Processos Multimídia, nas Faculdades ASSESC (Florianópolis) e CESUSC; professor de Jornalismo Online, na Universidade do Texas.
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