Jornaloes brs antecipam campanha de 2014 – viciados no protagonismo político

Luciano Martins Costa no Observatorio da Imprensa hoje

Os jornais desta 4a feira, 21, publicam cenas explícitas de campanha eleitoral, antecipando o que deverá ser a disputa pela Presidência da República no ano que vem. O Globo e o Estado de S.Paulo trazem em suas primeiras páginas imagem da presidenta Dilma Rousseff na companhia do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e retrato do senador mineiro Aécio Neves, tentando compor um quadro de isençao, com fotografias exatamente do mesmo tamanho e textos mais ou menos equivalentes. Esse é o equilíbrio formal que se pode esperar da cobertura eleitoral para os próximos meses.

No Globo, o título geral Eleiçoes 2014 indica que o jornal carioca já coloca sob o signo das urnas tudo que vier do noticiário político daqui para a frente. No Estado, a inauguraçao da campanha é anunciada pelo título Desafiantes vao às ruas, como um sinal de largada para a disputa. A Folha evita formalizar o início da cobertura eleitoral, com duas notas na primeira página informando sobre as movimentaçoes dos prováveis candidatos.

Depois do longo período em que se engajaram explicitamente em um dos lados do conflagrado ambiente político, os principais diários de circulaçao nacional parecem emitir sinais de que irao apresentar ao leitor uma cobertura equânime dos candidatos, a partir das declaraçoes e intençoes produzidas pelos marqueteiros de campanha.

Mas acontece que nao é no noticiário específico sobre política que se faz a pregaçao política da imprensa: a preferência dos editores aparece nas escolhas sobre outras questoes, como a economia, denúncias de corrupçao e outros eventos do cotidiano.

Os jornais nao podem cumprir a promessa que fazem em todo ano eleitoral, de apresentar os competidores em condiçoes equilibradas, porque estao viciados no protagonismo político – e também porque seus leitores exigem um posicionamento explícito entre as alternativas que vao às urnas. As cartas às redaçoes indicam claramente os perfis que compoem a maioria dos cidadaos que lê jornais, e o retrato é de um campo radicalizado.

A se levar em conta o programa enunciado pelo senador Aécio Neves, os debates vao girar em torno de questoes econômicas. A se considerar o que diz Eduardo Campos, o governo será questionado sobre reformas institucionais.

O Estado de S Paulo traça um mapa dos temas que deverao ser atacados pelos 2 prováveis candidatos. O quadro, que tem o título Diretrizes gerais, nao abre espaço para uma proposta da outra provável candidata, a atual presidenta da República. Os temas centrais da campanha, segundo o jornal, serao reforma política, pobreza, saúde e meio ambiente.

Embora, em seu discurso, Aécio Neves se apresente como um candidato mais tipicamente oposicionista e Eduardo Campos procure deixar uma brecha para ser visto como um fruto dissidente da matriz que levou Dilma Rousseff ao Planalto, as diferenças entre os dois programas oposicionistas sao meramente formais. Como o clima político, visto pelos olhos da imprensa, é de conflagraçao, possivelmente serao poucos os leitores dispostos a buscar as sutilezas que separam um do outro.

O senador Aécio Neves é apresentado pela imprensa como o principal candidato da oposiçao, o que o condiciona a tentar capitalizar tudo que a imprensa apontar como deficiência do atual governo. Eduardo Campos, claramente, será mantido como uma alternativa aceitável, a depender de seu desempenho nas próximas pesquisas, mas é apresentado como uma hipótese de conciliaçao.

Interessante observar que, tanto no PSDB quanto no PSB, nem Aécio nem Campos representam os melhores potenciais diante das urnas – o ex-governador José Serra, uma sombra permanente atrás do senador mineiro, e a ex-ministra Marina Silva, aliada de Campos, aparecem com mais chances nos levantamentos de intençoes de voto.

Os nomes estão lançados, e conforme se pode observar nas ediçoes desta 4a feira, esse é o quadro que o eleitor irá encontrar nas urnas eletrônicas em outubro do ano que vem. A nao ser, é claro, que a realidade venha a rachar a bola de cristal da imprensa.

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