O genial contra-spot que arruina proposta de mundo meritocrata da Chevrolet Argentina

A ideia foi da agência Commonwealth McCann Argentina, responsável pela comunicaçao da marca Chevrolet na Argentina. Uma péssima ideia (ou uma provocaçao proposital) que agora está pagando seu preço na internet (ou gerando o buzz esperado).

O novo spot da montadora para o lançamento do modelo Cruze, fabricado no país, faz uma homenagem à meritocracia, conceito liberal (com muitos defensores, diga-se de passagem), que determina que a ascensao social está diretamente relacionada ao esforço pessoal, à perseverança, ao trabalho duro.

A meritocracia ignora outras variáveis que determinam o nível de sucesso pessoal de cada indivíduo, como igualdade de condiçoes, desigualdade econômica, capitalismo selvagem, etc. Para os meritocratas, o filho de uma faxineira, por exemplo, nasce com as mesmas possibilidades sociais que o filho de um milionário, considerando que se esforçará e trabalhará duro para chegar lá.

O problema da nova publicidade da Chevrolet é que os meritocratas sao brancos, profissionais, lindos…” foi apenas uma das milhares de mensagens publicadas nas redes sociais criticando negativamente o comercial da McCann Argentina, que em menos de 10 dias ultrapassou a marca de 1 milhao de views, somente no YouTube.

Mas a melhor resposta chegou no formato de contra-spot. Utilizando as mesmas imagens da peça original, um desses sábios anônimos da internet deu uma resposta à altura.

Assista aos 2 comerciais, gentilmente traduzidos ao português por quem escreve essas linhas.

Texto do spot original da Commonwealth McCann Argentina:

Imagine o que é viver em uma meritocracia. Um mundo onde cada pessoa tem o que merece. Onde as pessoas vivem pensando em como progredir, dia a dia, o dia todo. Onde aquele que chegou, chegou por conta própria, sem ganhar nada de ninguém. Verdadeiro meritocrata. Esse que sabe o que tem que fazer e faz, sem enrolaçao. Que sabe que quanto mais trabalha, mais sorte tem. Que nao quer ter poder, mas sim quer ter e poder. O meritocrata sabe que pertence a uma minoria que nao para de avançar e que nunca foi reconhecida. Até agora.”

A resposta bem dada do contra-spot:

Bem-vindo à meritocracia. Um mundo onde quase ninguém tem aquilo que merece. Porque nao sabemos muito bem quem caralho decidiu o nível de merecimento. Onde as pessoas que pensam o tempo todo em como progredir e estar melhor claramente nao vivem aqui. Nao vivem de renda, nem se disfarçam de runner para fotografar um provável concorrente. Onde aquele que chegou ao topo é um hipster caprichoso que aqui está cumprimentando sua tia, que é gerente, onde o custo somado de uma janela de vidro, uma roupa, uma xícara, um café e um relógio, provavelmente, seja 7 vezes superior ao seu salário mensal. Um mundo onde você cai na empresa do seu pai com cara de parasita e seu capacetinho e pretende levar nas costas tarefas que podem te deixar cego, louco ou impotente e para as quais você jamais se preparou porque você nao está nem aí. Um mundo onde para estudar física quântica é preciso ter óculos de armaçao grossa e misturar sushi de Palermo com frapuccino de Palermo, combinados com drogas e cosméticos de Palermo também, assim depois você sofre um delirium tremens e faz arte abstrata com pilot azul e tenta vender a 4 harpias que compram arte para sonegar impostos. Um mundo onde você acaba de voltar de lavar uns dólares no exterior e está tranquilo porque sua família de postal pensa que você foi à Europa para buscar novas tendências para sua empresa de venda de calças sociais. Neste bairro divino que queremos que seja mundo, os meritocratas nunca existiram porque aqui somos todos classe média alta, brancos, aqui nao tem pretos, nem pobres, quase nao tem mulheres, ou as mostramos comendo lixo e se vendendo ao que melhor oferta. Aqui tem bercinho de ouro e benefícios desde o princípio. Aqui tem acumulaçao de fortunas prévias e disfarce de sacrifício. Aqui, alguém como você, querido, nao tem uma puta chance de existir. Fora. Desaparece. Sai do meu bairro. Sai da frente agora, porque senao te atropelo com o meu carro novo!

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