Pacaembu – precisava mesmo ser up-to-date? Texto do Jayme Serva

A prefeitura de Sao Paulo vai conceder o Estádio do Pacaembu por 30 anos à iniciativa privada. O atual secretário municipal de esportes diz, entusiasmado com a soluçao, que a arquibancada do veterano campo poderá até ganhar uma cobertura moderníssima.

O que a novidade traz é uma irresistível sensaçao de que, mesmo numa cidade como Sao Paulo, com as mais variadas opçoes de equipamentos públicos, há uma provincianíssima ideia de repetir o que parece ser contemporâneo, up-to-date, alinhado. Assim, o bom e velho (no melhor sentido da palavra) Pacaembu deverá ser obrigado a deixar de ser um estádio para ser uma arena.

O Pacaembu é uma obra no melhor estilo art-déco. Foi projetado pelo escritório Ramos de Azevedo, Severo e Vilares e inaugurado em abril de 1940. Durante quase 30 anos, o estádio dispunha, atrás do gol do extremo sul do gramado, de uma concha acústica, com uma pequena arquibancada para umas 500 pessoas. Um luxo, uma raridade que seria orgulho de qualquer cidade do mundo. Mas, em 1969, o prefeito biônico Paulo Maluf, nomeado pelo ditador de plantao, mandou demolir esse equipamento, que recebia concertos, pequenos espetáculos musicais e teatrais, ampliando o papel cultural do estádio, e fez construir uma horrorosa arquibancada de concreto, logo apelidada de Tobogã, em referência aos enormes escorregadores que eram sensaçao da cidade na época.

Transformar o Pacaembu numa arena será fazer mais do mesmo. Já teremos pelo menos mais 3 grandes arenas na cidade. Muito melhor seria demolir o horroroso Tobogã de Maluf e resgatar ali o espaço cultural sequestrado pelo terrorismo de direita representado pelo entao prefeito. Criar um Municipal ao ar livre. Devolver ao velho estádio o seu maior valor agregado: ser velho.

Agora, falando sério: esse negócio de chamar campo de futebol de arena é muito esquisito. Daqui a pouco vao chamar jogador de gladiador, chuteira de biga e Zé Maria Marin de imperator. Pior ainda será quando os jogadores usarem túnicas. Nao pelo jogo em si, mas pelo fim da partida, naquela hora da tradicional troca de camisas.

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