Comida para alimentar a alma – a memória afetiva e olfativa da cozinha | Savaget

Estava conversando com amigos sobre os restaurantes de Sao Paulo que estao cada vez mais caros e complexos. A comida badalada, de chefs que ganham estrelas e prêmios é bacana, mas nao é pra todo dia. Encontrar um lugarzinho honesto, com alma, sem frescuras nao é tarefa muito fácil. As praças de alimentaçao sao cada vez mais padronizadas e barulhentas, os quilos ficam presos a receitas que rendem muito, sem personalidade e qualquer coisa mais elaborada já sai da equaçao custo X benefício. Mais do que isto, a culinária virou gastronomia: misturas, pratos enfeitados, invencionices em excesso.

Mesmo quando vamos na casa de amigos parece que a única coisa que sabemos fazer é massa, risotto e receitas de programas de TV ou livros de chefs famosos. Aí li uma frase sobre como a comida deve ser simples e alimentar sua alma, trazendo memórias, histórias e momentos prazerosos. Ficamos entao pensando em receitas que nossas avós e maes faziam que nao estao no circuito fashion food e eram uma delícia. Lasanha, arroz de forno, salpicao de frango e pavê de morango, me lembrei. Gelatina colorida, disse uma amiga. Biscoitos amanteigados, responde outra. A comida que aciona nossas lembranças é incrível. Proust falava de suas madeleines, o ratinho da animaçao emocionou o crítico com seu ratatouille da infância.

Essa cozinha parece bem distante dos programas que estao cada vez mais competitivos. Será que tudo vira game? Em breve teremos um reality show nacional, com pessoas de todo o Brasil competindo. Mesmo com a promessa de menos stress e distanciamento entre jurados e competidores feita pelo apresentador Olivier Anquier, parece que a fórmula é a mesma. Vamos ver. Enquanto isso, neste domingo tirei o caderninho de receitas da minha mae e arrisquei uma sobremesa afetiva para saborear depois do almoço no caseiro Taormina, comandado pessoalmente por um casal que investe em comida simples, fresca e italianamente amorosa…

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