Baixaria em comentários online agrava distorçoes informativas, leia essa

Do Carlos Castilho no Observatorio da Imprensa

Os comentários grosseiros e ofensivos em páginas informativas na Web têm uma influência muito maior do que se imagina na formaçao de opinioes, pois a baixaria online é causa e consequência do tipo de informaçåo publicada em blogs, redes sociais e sites noticiosos. Este fenômeno aumenta a polêmica em torno da complexidade da circulação de informaçoes na internet.

A constataçao foi feita por um grupo de 5 pesquisadores da universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, que investigaram a influência de comentários pouco civilizados na forma como as pessoas desenvolvem opinioes sobre fatos, dados, eventos e processos sobre os quais têm pouco conhecimento.

O trabalho envolve um estudo das reaçoes aos textos de uma amostra de 2.338 pessoas – escolhidas conforme o perfil da populaçao norte-americana – que comentaram as informações fictícias publicadas em um blog sobre nanotecnologia. Os pesquisadores escolheram propositalmente um tema neutro para evitar o passionalismo inevitável, caso o assunto fosse política, esporte, religiao ou terrorismo, por exemplo.

As conclusoes mostraram que as pessoas com pouca familiaridade com novas tecnologias como a nanotecnologia tendem a valorizar mais o lado negativo do tema em questao quando os comentários postados nos textos do blog resvalaram para a baixaria e ofensas pessoais. Como mais da metade dos participantes da pesquisa tinha um conhecimento mínimo sobre materiais inframicroscópicos, as pessoas destacaram mais os riscos do que as vantagens das pesquisas nessa área supernova na atividade cientifica.

Se a polarizaçao de posicionamentos e a radicalizaçao de percepçoes aconteceram num debate em torno de um tema relativamente pacífico, nao é necessário muito esforço para deduzir o que aconteceria se a pesquisa envolvesse comentários sobre eleiçoes, futebol, sexo ou religiao. O festival de baixarias, por exemplo, é quase uma característica inevitável das campanhas eleitorais online.

Mas a internet nao pode ser culpada pela falta de civilidade evidenciada por milhares de internautas. Também não é um fenômeno apenas brasileiro e nem muito menos um processo irreversível. Os 5 professores norte-americanos (3 mulheres e 2 homens) afirmam que a baixaria se tornou mais visível na internet pela ampliaçao exponencial do número de pessoas que podem publicar comentários na rede mundial de computadores tendo, teoricamente, acesso a uma audiência de mais de 1 bilhao de internautas.

O preocupante é que a universalizaçao e a instantaneidade da internet permitem que as distorçoes informativas também sejam cada vez mais amplas e imediatas. Isso pode ter consequências trágicas se levarmos em conta que hoje estamos submetidos a uma avalancha informativa na qual nos defrontamos diariamente com problemas complexos sobre os quais temos escasso conhecimento. A possibilidade de sermos envolvidos inconscientemente em processos de radicalizaçao e xenofobia aumenta muito.

Integra do texto

Carlos Castilho tem 35 anos de carreira em rádio, jornais, revistas, televisao e agências de notícias, no Brasil e no exterior. Foi correspondente do Jornal do Brasil, no Chile; foi editor chefe do Jornal da Globo; chefe do escritório da TV Globo em Londres; correspondente do jornal Publico (Portugal) na América Latina; editor chefe do serviço latino-americano da agência de notícias Inter Press Service; consultor de comunicaçao das Naçoes Unidas e Uniao Européia, na Costa Rica.

É Mestre em Mídia e Conhecimento, pelo Programa de Engenharia e Gestao do Conhecimento, da Universidade Federal de Santa Catarina; integrante da direçao do Observatório da Imprensa; professor de Jornalismo Online e Processos Multimídia, nas Faculdades ASSESC (Florianópolis) e CESUSC; professor de Jornalismo Online, na Universidade do Texas.

 

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