Boato | Quando a informaçao é uma arma perigosa da guerra politica

Por Carlos Castilho publicado originalmente sob o titulo ‘Terrorismo do Bolsa Família e os efeitos letais do boca a boca’ no Observatorio da Imprensa.

O episódio do pânico coletivo causado pelo boato em torno do fim do Bolsa Família mostrou os efeitos devastadores do boca a boca quando as pessoas temem perder algo importante para suas vidas. As consequências foram visíveis e impactantes, mas as causas estao envoltas num emaranhado de suspeitas, que provavelmente exigirao algum tempo para serem esclarecidas.

O certo é que nao foi algo espontâneo, fortuito ou ocasional. O fato de ter atingido 10 estados brasileiros, na sua maioria localizados no Norte e Nordeste do país, em bairros periféricos e cidades do interior, mostra que existiu algum tipo de sincronismo para mobilizar pessoas, em geral mulheres, com reduzido acesso às fontes primárias de informaçao.

A única pista possível e concreta para identificar a origem é a velha pergunta: a quem interessa um episódio como esse? É claro que a questao será inevitavelmente politizada e com isso cada parte terá o seu discurso para livrar-se das suspeitas :(

Quem poderia resolver a questao é a Polícia Federal, encarregada pelo governo de investigar o caso, mas a natureza sincronizada da corrida à Caixa Econômica Federal, inclusive para receber um pouco plausível e extemporâneo presente do Dia das Maes, no valor de R$ 200, vai exigir da PF um esforço bem maior do que o dedicado costumeiramente a casos de corrupçao entre políticos ou em açoes espetaculares contra o narcotráfico.

Se a Polícia Federal for capaz de esclarecer rapidamente o caso do Bolsa Família, apresentando resultados irrefutáveis, ela estará prestando um enorme serviço ao país porque se mostrará capaz de neutralizar o uso criminoso do boca a boca para implantar o medo, insegurança e dúvida na populaçao. Isso nao é pouca coisa numa realidade onde a informaçao passou a comandar quase tudo em nossa sociedade.

Este é o nosso grande dilema contemporâneo. Como gerenciar individualmente processos coletivos de disseminaçao de boatos, rumores e notícias? Todos nós passamos a ter algum tipo de responsabilidade informativa para interromper a sequência de eventos que transformam o boca a boca numa arma letal.

A origem de um boato geralmente é centralizada e verticalizada, mas as suas consequências só podem ser neutralizadas de forma coletiva, com base na soma de vontades e conhecimentos individuais.

Alguém tem um interesse direto e uma estratégia preestabelecida para iniciar o processo viral de disseminaçao de um rumor ou informaçao distorcida. Os receptores reagem em funçao de seus interesses, estado de espírito e nível de informaçao. Mas quando o boato atinge o bolso, crenças religiosas ou relaçoes familiares, as reaçoes quase sempre sao instintivas e emocionais, ampliando os efeitos pretendidos pelo cérebro por trás da boataria.

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