Disputas | O jornalismo econômico br é derrotado pelo PIB de 2013

Imagem meramente ilustrativa – o que a Folha dizia no Governo anterior

O Luciano Martins Costa ainda agora no Observatorio da Imprensa

A manchete nos principais jornais desta 6a feira, 28, é o resultado da economia brasileira no ano de 2013. O tom de espanto domina os títulos das reportagens e das análises dos economistas credenciados pela imprensa. O Produto Interno Bruto cresceu 2,3%, contrariando o canto fúnebre entoado incessantemente pela mídia tradicional até o dia anterior. O discurso muda subitamente: agora, diz-se que “uma surpresa favorável estancou a piora das expectativas”.

As ediçoes da véspera de carnaval devem ser guardadas pelos analistas da comunicaçao jornalística como um caso a ser estudado em futuras pesquisas. Trata-se da mais deslavada demonstraçao de irresponsabilidade, para nao dizer manipulaçao criminosa, no exercício dessa que já foi considerada uma atividade luminar da vida moderna.

Ao ver desmentidas pelos números suas próprias adivinhaçoes, a imprensa usa o contorcionismo das metáforas para dizer que, agora, as expectativas catastrofistas nao têm sentido. Ora, mas quem foi que criou essas expectativas, se nao a própria imprensa, ao dar abrigo e destaque para as piores previsoes disponíveis?

Com exceçao de uma minoria de especialistas, que passaram as últimas semanas fazendo penosos malabarismos verbais para nao cair na corrente do apocalipse, o conteúdo dos jornais tem induzido os operadores da economia a um estado mental depressivo, que afeta principalmente o setor industrial, mais suscetível ao clima de pessimismo. Alguns textos acusam o governo atual de haver insuflado no mercado um otimismo exagerado, há 3 anos, ao projetar taxas de crescimento anuais em torno de 4%.

Acontece que, desde entao, a imprensa tem trabalhado no sentido contrário, produzindo um clima que induz a estratégias cautelosas por parte dos investidores. Ainda assim, note-se, o nível de investimento cresceu 6,3% em 2013, a maior alta desde 2010. O gráfico apresentado pelo Estado de S Paulo anota, timidamente, que os investimentos devem crescer mais em 2014, impulsionados pelas obras da Copa do Mundo.

No amplo espectro das causas que compoem os fenômenos complexos, nao se pode descartar o efeito do pessimismo da imprensa sobre escolhas de empresários e executivos mais conservadores. Observe-se que, progressivamente, a predominância de opinioes negativas sobre a economia brasileira se tornou tao hegemônica que alguns autores passaram a usar e abusar de figuras de linguagem para se dirigir a seus leitores, abrindo mao do vocabulário econômico específico.

Interessante notar também que um dos destaques das ediçoes desta 6a feira é a frase de uma jovem economista muito apreciada pelos jornais, que costuma usar referências literárias para ilustrar suas análises. Em declaraçao no Estado de S. Paulo, ela afirma que o desempenho do PIB “vai gerar um choque de realidade sobre a economia do País. O pessimismo nao se traduz em recessao ou queda do PIB”, observou. O leitor atento vai pesquisar suas manifestaçoes anteriores e constata que a economista tem sido uma das mais agressivas ativistas do pessimismo, useira contumaz de ironias.

Note-se também que, mesmo diante da realidade que contraria tudo que vinha publicando, a imprensa se esforça para diminuir o impacto dos fatos sobre suas previsoes alarmistas. Numa página inteira em que analisa sinais de mudança no modelo brasileiro de crescimento, a Folha de S. Paulo apresenta nesta ediçao de 6a feira um ranking das economias que mais cresceram, lançando mao de um artifício primário para minimizar a importância do desempenho do Brasil; – em dezembro, quando noticiaram estudos sobre mudanças na economia dos EUA, os jornais dividiram os países em 2 blocos – os mais vulneráveis e os menos vulneráveis.

E qual o critério adotado agora pela Folha, para classificar o desempenho dessas mesmas economias em 2013? Divide os países em três blocos, colocando o Brasil no bloco intermediário.

Se optasse pelo mesmo critério usado para destacar a análise pessimista, o jornal teria feito um quadro com dois blocos, e o Brasil seria apresentado entre os quatro países que mais cresceram, junto com China, Indonésia e Coréia do Sul.

Sao manobras como essa, inspiradas claramente num viés ideológico e no interesse político, que afetam a credibilidade da imprensa.

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