Marco Feliciano, o estuprador Marcos e o sexo em nome da fé, veja essa

Poe Luciano Martins Costa hoje no Observatorio

O deputado e pastor Marco Feliciano, que se tornou uma celebridade ao levar para o Conselho de Defesa dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados suas ideias arcaicas sobre direitos de minorias, volta ao noticiário por conta de suas relaçoes com outro religioso, Marcos Pereira da Silva, que acaba de ir para a cadeia.

O pastor Marcos Pereira da Silva é presidente da igreja denominada Assembleia de Deus dos Últimos Dias, com sede no Rio de Janeiro. Pesam contra ele denúncias de associaçao com traficantes de drogas, homicídios e violência sexual contra seguidoras de sua organizaçao. Os jornais divergem quanto ao número de mulheres que teriam sido estupradas pelo sacerdote – segundo o Globo, os depoimentos colhidos em 1 ano de investigaçoes identificam pelo menos 26 casos.

O acusado se tornou conhecido por negociar o fim de rebelioes em presídios e libertar reféns de traficantes, impedindo suas execuçoes, mas, segundo a polícia, ele na verdade era uma espécie de líder espiritual de traficantes e outros bandidos, aos quais era associado, e esses episódios eram simulaçoes combinadas com os criminosos [apesar da admiraçao que lhe era devotada na ocasiao pelo proprio jornal O Globo e pelo ‘Fantastico’ na TV].

O conjunto das reportagens (nos jornais) compoe 1 roteiro escabroso de exploraçao da fé, abusos, manipulaçao de consciências, homicídios, lavagem de dinheiro e roubo puro e simples. Embora seja um caso extremo de delinquência associada à religiosidade, a carreira do pastor Marcos Pereira da Silva deveria inspirar um esforço de investigaçao jornalística em torno do fenômeno das seitas que proliferam por todo o país e avançam sobre o campo político.

As relaçoes entre Marcos Pereira da Silva e o presidente da Comissao de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados merecem uma atençao maior do que a mera reproduçao de declaraçoes que tem marcado a açao da imprensa. Uma das pistas a serem seguidas é a da lavagem de dinheiro: o pastor é acusado de receber comissao de traficantes para dissimular a receita do crime por meio da venda de CDs e DVDs de evangelizaçao. Além disso, sua ascendência sobre chefes do crime organizado o coloca como um dos líderes da onda de ataques que aterrorizaram o Rio em 2006 e 2010, como reaçao contra o programa de ocupação de favelas pela chamadas unidades de polícia pacificadora.

O inquérito contém preciosidades, como a descriçao de orgias que teriam sido promovidas pelo dublê de líder religioso e chefe de quadrilha em um apartamento na Avenida Atlântica, registrado em nome da igreja e avaliado em R$ 8 milhoes: segundo testemunhas, o pastor teria o hábito de realizar encontros que incluíam relaçoes homossexuais de homens e mulheres. Também há referências a troca de favores com políticos e autoridades policiais, o que indica a extensao da influência do personagem, e que pode ser medida pelo empenho do deputado Feliciano em defender o acusado (!)

O pastor Marco Feliciano, deputado federal e presidente da Comissao de Direitos Humanos da Câmara, usou o Twitter para defender o também pastor Marcos Pereira da Silva, replicando o comentário de um dos seus seguidores – “Imprensa tem provas contra Marcos Pereira? Talvez um delegado sem crimes para investigar”, diz o comentário.

O caso do pastor Pereira da Silva abre uma oportunidade para a imprensa investigar a verdadeira natureza de organizaçoes que colocam no poder político figuras como o deputado Marco Feliciano, capaz de transformar um órgao do porte da Comissao de Direitos Humanos da Câmara em um circo místico de crendices e preconceitos. Pode-se ir um pouco além, analisando-se, por exemplo, como a sociedade contemporânea ainda se mantém vulnerável à penetraçao de arcaísmos e mistificaçoes, que contaminam as instituiçoes da República, e de que modo tais manifestaçoes de irracionalidade atrapalham o desenvolvimento do país.

Mas isso seria esperar demais. Desmascarar outros falsos religiosos associados ao crime já seria um bom começo.

publicidade

publicidade