A melhor maneira de nao incomodar ninguém é falar mal de todo o mundo

Gregorio Duvivier (Porta dos Fundos) esta semana na Folha, trecho

(…..) A melhor maneira de nao incomodar ninguém é falar mal de todo o mundo. Se eu disser que todos os políticos sao corruptos, todo o mundo adora – inclusive, e principalmente, os corruptos, que estao sendo colocados no mesmo saco dos honestos. O discurso do “ninguém presta” parece o discurso mais corajoso do mundo, mas é o mais chapa-branca.

Ninguém se cansa de repetir: “o Brasil nao tem jeito”, “a corrupçao no Brasil é endêmica”, “brasileiro nao aprende”, “o problema do Brasil é o brasileiro”. Tudo isso é dito, claro, por brasileiros. Repare que nao dizemos: nosso problema somos nós mesmos. Nao. O problema do Brasil sao os outros, diria Sartre, se fizesse vlogs.

Nunca vi alguém dizer: o problema do Brasil sou eu, que como carne, ando de carro, nao reciclo o meu lixo, recebo dinheiro como pessoa jurídica e nao lembro em quem votei pra vereador. A culpa é minha, pessoal. Em minha defesa, estou tentando mudar.

Outro dia um autoproclamado filósofo brasileiro que mora nos EUA vociferou: “O povo brasileiro é o povo mais covarde, imbecil e subserviente do universo”. E muita gente (brasileira) aplaudiu, provando que talvez ele estivesse certo – mas única e exclusivamente em relaçao aos seus leitores. Nao sei qual é a soluçao para os nossos problemas, mas mudar-se pra Veneza ou pra Virginia certamente nao é.

Quantas vezes você já nao ouviu a frase: “É por isso que o Brasil nao vai pra frente”? Independentemente da razao do nosso atraso, essa frase é uma mentira. Mesmo o crítico mais contumaz do governo (governo este do qual nao sou eleitor nem fã) há de concordar que o Brasil vai pra frente, sim. Devagar, aos trancos e barrancos, algumas vezes à revelia do governo – mas vai pra frente. Em contrapartida, nossos intelectuais estao ficando pra trás.

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