A midia do espetaculo sugere que a imprensa está à beira de 1 ataque de nervos

Luciano Martins Costa e as guerras nas ruas e na midia nacionais – trecho de artigo no Observatorio

Os jornais desta 3a feira voltam a elogiar a nova tática da polícia paulista no controle do vandalismo durante manifestaçoes de rua: em lugar das balas de borracha e da profusao de bombas de efeito moral que nao escolhem suas vítimas, entram em cena agentes especializados em lutas marciais. Viciada na espetacularizaçao dos acontecimentos, a imprensa já batizou esses policiais de “tropa ninja”, e certamente as futuras imagens dos protestos nao terão aquelas nuvens de fumaça, mas cenas de filmes de caratê.

Em torno do noticiário e das opinioes criteriosamente privilegiadas pela mídia tradicional vai sendo construída a ideia de que a sociedade brasileira, como um todo, está mergulhada na violência. Um clima de insanidade, que seria bem descrito no conceito da “desrazao” certa vez aventado pelo filósofo Michel Foucault, estaria se apossando da coletividade brasileira. Essa “desrazao” – espécie de insanidade cultural, nao patológica – seria parte da modernidade, expressao extremada da sociedade do consumo e da superficialidade.

Entrariam na conta dessa insensatez tanto a violência dos criminosos que encontram no escudo de um time de futebol a razao para seus atos brutais quanto a sofreguidao com que adolescentes se aglomeram nos shopping centers para seus “rolezinhos”.

Há muitos aspectos dessa insanidade cultural presentes, por exemplo, nas concentraçoes de jovens desocupados em regioes abandonadas pelo poder público, mas essa “desrazao” também se manifesta na açao da imprensa, quando ela se mostra obcecada pelo efeito espetaculoso dos incidentes.

Os fatos de grande repercussao sao quase sempre eventos isolados, que, embora se repitam com frequência preocupante, nao representam o todo, mas apenas a parte da realidade que é alcançada pela mídia.

Na cultura do espetáculo, privilegia-se o efeito pirotécnico das açoes e se deixa em plano secundário a compreensao de suas razoes. O noticiário quer nos convencer de que o Brasil está convulsionado, mas é apenas a imprensa que parece à beira de um ataque de nervos.

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