Mudando a geopolitica mundial do petroleo e tambem a da internet?

Passado o 1o leilao do pré-sal, a preocupaçao no governo é neutralizar as críticas pela esquerda . Nao os questionamentos de Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva, que cobram ainda menos Estado, mas o contrário.

Por Nelson de Sá publicado no fim do dia de ontem na Folha somente para assinantes®.

Em reaçao ao inesperado ataque pela esquerda, de que é entreguista, Dilma Rousseff foi à televisao. E pela internet um dos argumentos ecoados aqui e ali, em defesa do resultado, é que ele muda a geopolítica mundial do petróleo. Ainda que nao chegue a tanto, o alinhamento do Brasil com China e França no pré-sal nao é sinal isolado. Está também, por exemplo, no acordo fechado pelo ministro Celso Amorim (Defesa) com a Rússia, de comércio e cooperaçao militar.

Os movimentos coincidem com as revelaçoes de espionagem eletrônica americana no Brasil, inclusive Petrobras e Ministério das Minas e Energia, e agora na mesma França. E com movimentação semelhante nas telecomunicaçoes. Foi o ministro Paulo Bernardo (Comunicaçoes) quem, ao lado de Amorim, concentrou as respostas do governo brasileiro à espionagem, desde os primeiros indícios. Agora também é ele quem, ao lado de Amorim, costura novas parcerias geopolíticas.

2a feira, abrindo a semana do Internet Governance Forum (IGF) da ONU, na Indonésia, Bernardo afirmou que o Brasil pretende “mudar o atual status quo” da rede mundial: “É chegada a hora de agregarmos mais democracia à internet”. Do discurso: “Desafios globais requerem tratamento global. Precisamos trazer mais atores e visoes de mundo. Para tanto, propomos realizar no Brasil, no 1o semestre de 2014, um encontro mundial sobre a governança da internet”.

O propósito é alcançar uma governança “multi-stakeholder”, nao limitada aos EUA, como hoje. A International Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), organizaçao americana que cuida de domínios de internet, diz apoiar – “A confiança pública na internet como meio aberto e livre foi ferida”, declarou o americano Fadi Chehadé, presidente da Icann, dias atrás na Índia – “Mas isso é bom, no sentido de agora estarmos buscando uma forma de lidar com isso.”

Sem citar a espionagem, promete que “2014 será um ano que vocês vao recordar: haverá evoluçao palpável na maneira como cooperamos no espaço da internet”. Fala até em corrigir a “anglocentricidade” da Icann, hoje em Los Angeles.

Paralelamente, o ministro-conselheiro da Uniao Europeia no país revelou que UE e Brasil negociam regras comuns sobre nuvem e segurança da rede, “para deter os EUA” . Agendaram “workshop” para daqui a duas semanas, em Brasília – “O momento é de restaurar a confiança, que ficou abalada com a comprovaçao da espionagem das agências dos EUA”, afirmou. “Queremos norma comum para ter uma indústria nao dependente dos EUA e sua espionagem sistemática.”

Detalhando o que vai propor, defendeu multa de 2% sobre a receita global das empresas envolvidas em espionagem e obrigatoriedade de dados serem hospedados no próprio território, medidas que serao votadas no Parlamento Europeu.

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