Na midia | “Nao se trata de uma açao bárbara mas de 1 crime consciente”

Luciano Martins Costa comenta hoje no Observatorio as reaçoes na midia ao caso do espancamento e morte de uma mulher de 33 no Guarujá, no fim de semana, assunto que repercute nas redes sociais ainda hoje.

Há muita superficialidade nas análises publicadas pelos principais jornais do país sobre o crime coletivo insuflado pelo boato. A melhor contribuiçao para o debate sobre o acontecimento é certamente a ponderaçao da socióloga Ariadne Lima Natal, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP, citada pelo Globo.

A pesquisadora, que estudou casos de linchamento ocorridos entre 1980 e 2009 na regiao metropolitana de Sao Paulo, considera que nao se trata de uma açao bárbara, irracional, mas de um crime cometido conscientemente pelos agressores. Ela passa ao largo da maioria das opinioes reproduzidas pela imprensa, quase todas se referindo à “falência do sistema de segurança pública e à falta de credibilidade das instituiçoes democráticas por parte da populaçao”. Para Ariadne Lima Natal, há causas mais concretas do que a suposta omissao do Estado democrático. Afinal, nem é necessária muita lucubraçao para se concluir que linchamentos resultam da má educaçao social e que nao é possível nem recomendável que a sociedade seja vigiada pelo Estado.

O que a socióloga constatou, em suas pesquisas de 3 décadas, foi uma coincidência marcante: os linchamentos se repetem logo após um caso de grande repercussao na mídia. Portanto, comprova-se novamente, em relaçao aos crimes cometidos por uma coletividade, o que já foi demonstrado quanto aos suicídios – ou seja, que o noticiário intenso sobre um caso acaba deflagrando uma espécie de epidemia de eventos semelhantes.

“Cheguei à conclusao de que picos observados ao longo desses 30 anos na Grande Sao Paulo foram desencadeados por um caso de grande repercussao noticiado pela imprensa” – disse explicitamente a socióloga.

Portanto, cabe também uma reflexao interna nas redaçoes. Ao assumir o discurso radical de alguns de seus colaboradores, os jornais nao estariam estimulando o linchamento moral de certos personagens da vida pública e o descrédito nas instituiçoes republicanas? A opçao preferencial por versoes catastrofistas da realidade nao estaria contribuindo para o abandono do bom senso e da racionalidade?

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