Narrativa tambem é jornalismo – ‘O novo ja nasceu’ | Nassif no Observatorio

Postado por Luis Nassif republicado no Observatorio da Imprensa

No domingo, 22, fui a um evento sobre mídia alternativa, no qual um dos expositores era da chamada Mídia Ninja – a rede montada na Internet para transmissao de eventos utilizando a tecnologia do celular. Cada vez mais reforça a convicçao de que as manifestaçoes de junho passado – as passeatas mobilizadas pelas redes sociais – serao reconhecidas futuramente como um marco na história das mídias e do chamado mercado de opiniao.

O rapaz contou como um dos Ninja foi preso pela PM do Rio de Janeiro, acusado de atirar coquetéis Molotov na passeata, acusaçao endossada pelo próprio Jornal Nacional. Houve convocaçao geral para que manifestantes enviassem vídeos que comprovassem a inocência do Ninja. Imediatamente despencaram dezenas de emails com vídeos acoplados. Um advogado da OAB levou a um juiz de direito que ordenou a libertaçao imediata do Ninja. Na ediçao seguinte, o JN corrigiu a notícia e chamou a atençao para o fenômeno dos agentes policiais infiltrados.

Em outro episódio, um Ninja flagrou policiais civis espancando uma moça encapuçada. Os vídeos foram levados até a delegacia e o delegado ordenou a detençao imediata dos agressores.

Na época, críticos das boas maneiras jornalísticas apontaram o pouco acabamento dos vídeos, em comparaçao com o apuro técnico das transmissoes profissionais. Criticaram a linguagem tosca, a falta do lide (a abertura ou “cabeça” das matérias), a prolixidade da cobertura.

Não entenderam nada.

Nada contra o apuro, o acabamento, a estética das transmissoes profissionais. Mas equipararam o produto notícia ao produto show e, com isso, houve uma perda da credibilidade jornalística junto a públicos mais bem informados, sem saber diferenciar a dramaturgia da notícia. É um padrão repetitivo. Reparem em transmissoes ao vivo do comportamento da torcida em jogos de futebol. A câmera fecha no repórter. Aí, se volta para os torcedores e eles, do nada, começam a gritar o nome do seu time. Qual a diferença dos programas de auditórios, nos quais há o coordenador de público com cartazes mandando aplaudir, vaiar ou ficar quieto?

Ou o close nos olhos do entrevistado, quando se emociona. Em uma das passeatas, um dos Ninja flagrou 1 técnico da Globo colocando um cartaz político “contra a corrupçao” nas maos de 1 manifestante ébrio. Foi desmascarado. Provavelmente nao havia intençao política, mas apenas a de conferir à reportagem a cena que – imaginava-se – mais atrairia os telespectadores. Em qualquer caso, há a constante manipulaçao dos fatos.

A nova linguagem nao deve ser vista como mera questao de acabamento, mas de uma mudança radical na estética, no discurso e no modo de fazer jornalismo. Representa um retorno ao documentarismo de velhos tempos, nos quais o ponto central era a notícia crua, sem o chantili do roteiro prévio, dos personagens ensaiados.

O que aconteceu até agora é ilustrativo dos fenômenos paralelos que ocorrem na mídia, à medida em que uma nova tecnologia disruptiva – a Internet – vai se consolidando. Há um fenômeno de criatividade extraordinário, no qual mergulham novos desenvolvedores, novos modelos de reportagem escrita e televisiva, novas formas de expressao.

O novo já nasceu.

Crise da midia está no formal ou no conteudo? – painel do Blue Bus no youPix Rio – será no sabado, 19, no Açao Cidadania, na zona portuaria do Rio de Janeiro. Leia sobre isso aqui.

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