O novo jornalismo e o velho diploma – apenas o interesse em ‘reservar mercado’?

Pegando o gancho da nota de Blue Bus de ontem sobre o novo jornalismo – Estes tempos de multiplicaçao e desconcentraçao dos espaços de mídia fazem ter ainda menos sentido a ideia corporativista do diploma obrigatório. Se essa já era uma ideia duvidosa nos tempos do jornalismo tradicional, hoje o único fio que a segura em pé é o interesse de reservar mercado.

Nao existe “jornalismo” como campo específico da ciência ou do conhecimento. Ele é meio. É um conjunto de técnicas – cada vez mais voláteis, como mostra a nota – para selecionar, transmitir, comentar informaçao. Técnicas que um médico, um cientista, um arquiteto, um atleta, podem aprender em poucos meses, e que os credenciará a escrever ou falar sobre medicina, ciência, arquitetura ou esporte. O inverso – estudar jornalismo e se capacitar a versar sobre campos mais amplos e complexos do conhecimento – me parece muito mais longe de dar um resultado razoável.

Há grandes jornalistas sem diploma e há grandes jornalistas diplomados. Mas restringir o exercício da profissao aos diplomados será privilegiar a técnica e restringir a expansao do conteúdo. Sem entrar na discussao sobre a liberdade de expressao, que tem sido usada largamente nesse debate, o que fica claro é que nao se pode furtar ao leitor a oportunidade de ler um gênio apenas porque ele preferiu nao cursar “Redaçao e Expressao em Jornalismo Impresso nao Cotidiano” ou “Design da Informaçao em Jornalismo 2”.

Cleyton Torres, o autor do texto no Observatório da Imprensa, coloca – “As novas facetas do jornalista o obrigam a percorrer de forma transversal e quase sem limites por áreas que muitos ainda insistem em dizer que nao pertencem aos profissionais da notícia“. Eu completaria dizendo que, para pertencer aos profissionais da notícia, uma área do conhecimento precisa apenas ser do interesse de 1 leitor. Isso amplia o campo muito além do que o diploma poderia cobrir.

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