Porque Narciso acha feio o que nao está no perfil do Facebook | Tania Savaget

Quem já deu uma lida nos livros de 1 dos grandes pensadores da modernidade, Zygmunt Bauman, ou de uma das melhores vozes da Sociedade em Rede, Manuel Castells, já deve estar familiarizado com os conceitos de fragmentaçao da nossa identidade e dos laços frágeis que vamos firmando e desfirmando no nosso dia-a-dia, a cada interesse, causa, assunto, tema que nos interessa. As grandes instituiçoes que influenciavam nossa construçao de identidade – família, Igreja, escola – estao menos poderosas e o culto à individualidade só se amplia.

Na busca por nossos muitos pedacinhos espalhados por aí, em casa, no trabalho, nas coisas que compramos, nas músicas que escolhemos ouvir, nos filmes que optamos por assistir, nos restaurantes que frequentamos, vamos tentando entender quem somos nós, a quais grupos queremos pertencer, de quais queremos nos afastar. E claro, temos a opçao de colocar tudo isso no nosso perfil do Facebook. Para entrar já precisamos, minimamente, dizer onde estudamos, se estamos em relacionamentos sérios, quais sao nossas preferências.

E, se nos formamos como sujeitos a partir do olhar do outro, temos agora milhares de outros com seus botoezinhos de Like para nos aprovar ou desaprovar. Nao é à toa que escolhemos nossos melhores ângulos, selecionamos o que de melhor pode nos mostrar para o mundo e enchemos nossa linha do tempo com a seleçao do the best of. E, depois, ficamos estressados para ver quantos likes tivemos, quantos comentários foram feitos, quantos novos amigos querem nos adicionar. Como Narciso, queremos ver só o que tem potencial para nos apaixonarmos por nós mesmos. Será que a gente acredita no que a gente posta? ;)

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