‘Sobre o vergonhoso comportamento da Folha no caso Siemens’ – jornalismo?

Texto do Luciano Martins Costa publicado no sabado no Observatorio da Imprena  Blue Bus reproduz uma versao resumida. O titulo da nota aqui é o mesmo dado pelo vIomundo que tambem reproduziu.

Às vezes, para nao dizer o essencial, a imprensa precisa dizer alguma coisa. Parece ser esse o sentido da manchete da Folha na ediçao da 6a feira – “Governo paulista deu aval a cartel do metrô, diz Siemens” – é o que anuncia o título principal do jornal, no alto da primeira página.

A reportagem é a primeira manifestaçao relevante de 1 dos 3 diários de circulaçao nacional sobre a confirmaçao do esquema de propinas que, durante pelo menos 15 anos, condicionou as contrataçoes de obras e compras de equipamentos para o sistema do metrô e dos trens metropolitanos na capital paulista.

A escolha editorial pode induzir o leitor desatento a concluir que o jornal decidiu finalmente encarar a fartura de evidências sobre um estado permanente de corrupçao no governo de Sao Paulo, cujas consequências podem ser claramente percebidas na insuficiência das linhas de transporte sobre trilhos, no atraso de obras e no custo excessivo do sistema, que acaba repercutindo no preço das tarifas por décadas à frente.

Pelo que se lê na Folha, tudo nao passou de 1 ajuste feito por assessores de 1 governador que já faleceu, Mário Covas, num contexto em que o acordo entre concorrentes seria a maneira mais prática de resolver rapidamente a disputa entre as empresas candidatas ao contrato (…..)

Segundo a reportagem, o conluio teria começado em 2000 e prosseguido nas gestoes de Geraldo Alckmin, que era vice de Covas, e de seu sucessor, José Serra. O cartel passou a dominar todos os projetos de metrô e trens metropolitanos, gerando custos sempre maiores (…..)

Uma das táticas mais corriqueiras na prática jornalística, quando nao se quer alimentar polêmicas em torno de determinado assunto, é antecipar uma versao moderada do tema, delimitando a priori certas condiçoes para sua interpretaçao. Essa adesao condicional quase sempre anula a atençao crítica dos leitores, dando a entender que o veículo nao está se omitindo ou tentando encobrir alguns eventos, que preferia nao ver transformados em escândalo. Esse parece ser o caso da abordagem que faz a Folha ao esquema de pagamento de propinas que está ligado ao caso do carte (…..)

A Folha diz que procurou ouvir o ex-governador José Serra, mas ele “nao foi localizado”. O atual governador, Geraldo Alckmin, responde que tudo nao passou de 1 acerto entre as empresas concorrentes, sem participaçao de funcionários do governo – e de repente o senso crítico do jornal fica obnubilado pelas palavras mágicas do chefe do governo paulista.

Entao, estamos combinados: o governo de Sao Paulo faz uma sucessao de licitaçoes para comprar trens e sistemas de controle de tráfego, tratar da manutençao dos equipamentos, durante 15 anos, e nunca desconfia que os preços sao acertados previamente entre os fornecedores?

O jornal que se considera o mais aguerrido do Brasil, cujos repórteres, em outras ocasioes, se dispoem a vasculhar o lixo de agentes públicos, aceita candidamente essa ingenuidade toda. Nao passa pela cabeça dos editores mandar investigar se a mesma bondade com o dinheiro público nao se estendeu também para as obras de túneis, instalaçao de trilhos, construçao de estaçoes, como tem sido diligente e devidamente feito no caso dos estádios que estao sendo construídos para a Copa de 2014. Como diria o parceiro do Batman – “Santa inocência!”.

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