Tempo, tempo, tempo, tempo – Rugas, botox e vampiros – texto do Jayme Serva

“Eu coloquei botox e fiquei a cara de Jader Barbalho”. A afirmaçao é da cantora Fafá de Belém, em entrevista para a RedeTV, antecipada pela Folha online.

A auto-sátira da sempre bem-humorada cantora paraense remete a um fenômeno dos tempos modernos que lembra um filme B antigo que, durante algum tempo, virou cult – ‘Os Vampiros Invadem a Terra’. Nao havia, de fato, vampiros na trama, mas um ser alienígena que fazia de todos os homens clones de si mesmos.

Botox, silicone, maquiagem definitiva, tratamentos de todo o tipo para a pele, acessórios de uso interno, anabolizantes tudo isso está fazendo com que homens e mulheres fiquem cada vez mais parecidos uns com os outros – e cada vez menos parecidos com gente.

Foi-se o tempo em que as intervençoes buscavam recuperar a juventude perdida ou retardar a chegada da velhice. O que era uma guerra inglória contra o tempo passou a ser um combate feroz contra a própria natureza. Maçãs do rosto a mais, narizes a menos, seios imensos e esféricos, testas plastificadas pelo efeito da toxina botulínica, fios de platina (ou é ouro?) aniquilando rugas.

Mas o que se esquece é que as rugas sao a história de uma pessoa. Sorrisos geram pés de galinha – que, dependendo de quem os portar, sao embelezadores irresistíveis. Entusiasmo gera rugas na testa — e quem poderia imaginar Caetano Veloso sem rugas na testa? As marcas do tempo temperam e enriquecem. Sua eliminaçao torna real a ficçao científica. Muda apenas o nome do filme: ‘Os jáderes invadem a terra’.

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