Nas varandas de Alfama, roupas coloridas dao lugar a anúncios pagos

Ó Dona Maria, já estendeu a sua roupa na varanda hoje? Ganhou quanto si faz favor?”. É mais ao menos assim que, desde a semana passada, as vizinhas de Alfama dao bom dia, depois que uma cadeia de supermercados do grupo Dia Portugal resolveu inovar para festejar os seus 40 anos. Escolheu nada mais, nada menos, que um dos mais tradicionais bairros de Lisboa e junto com a APPA (Associaçao do Patrimônio e Populaçao de Alfama) e a agência de publicidade Nossa, criaram o ‘Estende a Renda’, para ajudar “os moradores a lutar contra a subida das rendas (aluguel)”, diz o comunicado. Em troca, os moradores recebem vales de compra para ajudar nos gastos com a alimentaçao no valor de 50 euros.

Como nao podia deixar de ser, essa interferência na paisagem de uma das imagens ícones desse bairro popular lisboeta divide opinioes, e as roupas coloridas penduradas nas varandas reacenderam a discussao sobre  gentrificaçao – palavra que entrou para o dicionário urbano associada a um problema grave ligado à valorizaçao dos imóveis em algumas zonas da cidade. Com o aumento do preço dos aluguéis, os moradores nao conseguem pagar a ‘renda’ e sao obrigados a sair das suas antigas casas para dar espaço ao turismo e ao alojamento local. Críticas e novas soluçoes nao faltam e dizem até que, apesar da contestaçao, é possível que essas ‘prendas’ financeiras, leia-se anúncios, possam ser implementados em outros bairros históricos do país.

Enquanto isso, mesmo com turistas de todo o mundo subindo e descendo suas escadarias, becos, pátios, ruelas e descobrindo em cada canto séculos de história, Alfama resiste, viva, solar, olhando o Tejo lá de cima, atenta a quem chega e quem parte nos transatlânticos, aqueles “enormes barcos”, diz alguém ao meu lado enquanto fotografo aquele pedaço do passado. Leite Magro… Até quando? | Fotos: Marise Araujo

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