Paulo Maluf no Fantastico falando dos beneficios do alho para a saude | Jayme Serva

Vou pegar carona em nota de ontem e outras de hoje, que mencionam o jornalismo do Fantástico. As notas me lembraram um dia em que eu, ainda estudante, priscas eras, estava diante da TV vendo o Fantástico, quando o locutor de plantao anunciou, para depois do intervalo, o milagroso efeito medicinal do alho.

Fiquei curioso, que será que, além do efeito moderado sobre a pressao arterial, os cientistas da Globo haviam descoberto que o alho causava? 3 minutos depois, vem a matéria, revelando os incríveis efeitos da cheirosa liliácea sobre o corpo humano – um dente de alho, se consumido da forma correta, ajudaria a regular… a pressao arterial. Pô, mas isso minha avó sempre disse, pensei. Nesse exato momento, adentrava a telinha o entao governador de Sao Paulo, Paulo Salim Maluf. Gaio, sorridente, com um copo d’água numa mao e um dente de alho na outra, explicava que deixar o alho na água do copo durante a noite e tomar a gororoba de manha baixava a pressao de qualquer um. E o repórter o tratava como se ele fosse o próprio Osvaldo Cruz ressuscitado.

Naquele dia, muitas décadas atrás, já se podia ver o estilo de jornalismo que, em outra ocasiao, mostrou um mercenário americano em algum lugar da Amazônia estrangulando uma sucuri até a morte – e nao era denúncia, era para mostrar os incríveis dotes físicos do gringo. Nada de novo na “confissao” do garoto corintiano.

Mas lendo as notas de ontem e hoje, me lembrei de uma conversa com um velho amigo, hoje imerso nas coisas da internet. Quando mencionei uma barbaridade qualquer dessas, ele disse – “Pois o pior nao é o que esses caras contam, é cada vez mais difícil manipular um cidadao tentando mostrar na TV que um gato bigodudo é uma lebre mansinha. O que manipula de verdade é nao falar, é fazer alguém sumir da pauta”. De fato, a arma mais daninha que um meio de comunicaçao pode usar é a omissao deliberada. Até hoje ninguém inventou um jeito de se defender do silêncio.

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