Na invasao ao Capitólio, manifestantes deixam recado sombrio – ‘Mate a mídia’

Rodaram o mundo as imagens horrendas da invasao do Capitólio dos EUA, durante sessao conjunta que deveria apenas referendar os votos do Colégio Eleitoral, como vem ocorrendo tradicionalmente de 4 em 4 anos, dando enfim a vitória ao democrata Joe Biden. Manifestantes foram incitados pelo futuro ex-presidente Donald Trump, que clamou, mais cedo – “Marchem para DC“. Uma pessoa morreu depois de ser atingida por um tiro (nao se sabe vindo de quem). Imagens mostram que havia manifestantes armados. Houve muita quebradeira, muita gente assustada, jornalistas trancados e congressistas sendo escoltados por “agentes armados pra guerra“, como contou no Twitter, no calor dos acontecimentos, a excelente Raquel Krähenbühl, correspondente da Globonews na capital da “maior democracia do mundo“. O vice-presidente Pence, que presidia a sessao, foi evacuado. Foi uma situaçao “sem precedentes“, como disseram à exaustao a imprensa local e os congressistas ao retomarem a sessao.

Mas há um lado ainda mais sombrio de tudo isso – as ameaças, incitadas igualmente por Donald Trump, contra jornalistas, profissionais que estao na linha de frente da pancadaria para continuar levando informaçao ao público – a todo o público, nao importa se veste azul e se identifica com Biden ou se usa boné vermelho e gosta de Trump. Em um clique revelado pelo fotojornalista Anthony Quintano, da NBC News, a ameaça ficou por escrito no que parece ser uma porta do Capitólio: “Mate a mídia“. Se ficasse só nisso, já seria assustador. Mas nao foi o caso. Uma equipe da AP, no meio da correria, precisou deixar parte do equipamento para trás, ainda do lado de fora do Capitólio. Foi tudo destruído pelos manifestantes, como contou a correspondente do jornal O Globo em DC, Paola De Orte. Foi dela também o registro de como ficou o equipamento depois. William Turton, que trabalha para a Bloomberg, registrou manifestantes avançando sobre jornalistas. Houve muito mais. Basta ter paciência e estômago para achar, no Twitter ou no noticiário, ameaças análogas. Por aqui, no Brasil de Bolsonaro, nao é diferente. Inspirado em Trump, o presidente gosta de jogar seus apoiadores contra os jornalistas – o que levou muitos grupos a deixarem o “chiqueirinho” do Palácio do Alvorada, de onde cobriam suas declaraçoes inócuas. E pode parecer que eu estou exagerando, mas se você também tiver paciência e estômago pode ver isso no excelente documentário “Cercados”, do Globoplay, que mostra o desafio de ser jornalista em um país cujo presidente espalha mentiras e ataca os mensageiros porque aparentemente nao tem mensagem alguma para transmitir.

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